segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Muito mais que figuras

O vício da observação ainda vai me levar à loucura. Ou, ao menos, tornar-me estranhamente íntima de uma realidade que não é a minha e que, por hora, tenho vago conhecimento. Pouco tempo depois de ter me mudado para a rua X (não me recordo quando, mas não faz muito tempo), reparei aquelas duas figuras. Figuras em todos os sentidos que essa palavra possa ter.
A minha visão limitada de mundo, comum à maioria das pessoas, que costuma ver exotismo em tudo, fez-me achar graça em miudezas de situações corriqueiras que, quando observadas com análise, tomam caráter peculiar. Não existe mal algum em uma avó morar com o neto, descerem e subirem ladeira juntos, irem ao supermercado e tudo o mais. Aquela, no entanto, não era uma simples dupla. Era engraçado e ao mesmo tempo agradável observar uma relação, à primeira vista, tão afável.
O garoto, branquelo e de finas pernas, tinha uma fronte de desculpa. Seu cabelo era em forma de cuia, um misto saudoso de John Lennon e Kurt Cobain. Talvez não só esteticamente esse mistura se dava. Ele tinha cara e pés de quem ouve rock – o All Star azul marinho (essa cor é característica) e as meias até as canelas não me deixam mentir. A aparência denunciava dezesseis anos, no máximo. Mas algo me fazia crer que esse adolescente, com cara de João, tinha uns vinte anos. Nas minhas subidas e descidas, eu ficava sempre atenta, na esperança de encontrá-lo, obviamente, na companhia da avó, carregando uma sacola de compras. Tinha uma cara meio nerd, mas ao mesmo tempo atraente. Nunca vou esquecer do dia em que o vi sem aqueles óculos horríveis: ele estava incrivelmente bonito (“lindo” seria mais poético, mas quero ser verossímil). Não lembro exatamente como, só sei que estava sem camisa, o que aparentemente não significa nada, já que – nesse quesito - estava mais para técnico de computadores do que para professor de física. Até hoje não consigo entender como aquele ser conseguia prender tanto o meu olhar. E era sempre ali que os encontrava, jamais em outro lugar. Quando eu sair daquela rua, o que mais será lembrado é certo.
Antes de relatar umas besteiras, normalidades interessantes apenas para cabeças como a minha, preciso destrinchar a figura da avó que, caso pudesse nomeá-la, Carmem seria a melhor opção. Baixinha, cabelo curtinho e grisalho, corpo robusto e estilo incomparável. Por isso, inclusive, quase não reparava o seu rosto. Apenas passava o olho em um conjunto típico e uniforme e logo deslocava a minha atenção para as suas roupas. Estas variavam muito, com dias de mulher de motoqueiro à hippie fã de Janis Joplin. Lembro vagamente (quero acreditar nisso!) que ela tinha uma tatuagem, parece que no braço ou no ombro, já gasta pelo tempo. Carmem manteve seu estilo verdadeiramente alternativo que, com certeza, carregou durante uma juventude de colocar inveja em muitos. Aparentava beirar (para mais ou menos) os sessenta anos.
A dupla era quase inseparável. Vez ou outra, encontrava João sozinho lavando um velho fusca amarelo claro. Essa carro, por sinal, era outro mistério. Parecia dividir o carinho do garoto apenas com Carmem. Já vi João lavando-o, limpando-o e até consertando o motor. Imagino que era um bem de família. Os dois, inclusive, já chegaram na porta do prédio juntos e à bordo desse mimo. Nada mais estiloso.
O que mais me intrigava era o contraste entre aqueles dois. O fato de vê-los sempre juntos e conversando alegremente fez-me pensar melhor em tudo isso. Eram uma senhora descolada e estilosa e um garoto franzino e dócil. Eles se completavam perfeitamente. Aposto que se os conhecesse, comprovaria todas as minhas teses. Tive a sorte de ouvir lapsos de conversas quando cruzava com eles. Confesso que ouvia mais a voz de Carmem. Certa vez, houve uma grande coincidência: quando sai do prédio, eles estavam na minha frente, seguindo a mesma direção que seria a minha. Apressei o passo e, quando estava logo atrás deles, recuei. Tudo para poder escutar a conversa e tentar descobrir um pouco daquele mundo. A surpresa foi enorme e, confesso, a felicidade também. Parte de minhas suspeitas confirmaram-se de maneira incrível. Carmem parecia indignada com algum fato. Não economizava “porras”, “puta-que-parius” e , quando fui obrigada a me distanciar, pude escutar um “é foda”. Já peguei-os rindo também. Engraçado é que Carmem era sempre muito falante e João atento, apenas escutando.
São meus vizinhos de um prédio ao lado. Neto e avó moram em um apartamento abaixo do nível do meu. Possuem uma espécie de área ao ar livre. Ali, pasmem, mandaram construir uma piscina. Não foram poucas as vezes em que pude ver João e Carmem cuidando dela, cobrindo-a para evitar sujeira. Aquela varanda, aliás, é um local que aparenta ser agradável aos dois. Outro dia, uma festa rolava por ali. Pude ver mesas e cadeiras apertadas no pequeno espaço. O som mecânico vinha de um vitrola, de onde saiam músicas de Elis Regina e Legião Urbana. Nossa! Eles usam vitrola! De fato, Dona Carmem deve mandar João ir à merda se ele disser que prefere usar um laptop. Quando voltei do meu afazer, bisbilhotei João tocando violão em uma rodinha de poucas pessoas. "Vovó", é claro, estava entre elas. Ele tocava Beatles; “Help!”, precisamente.
Não faltava mais nada, apenas coragem e idéias para conhecê-los melhor.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Madonna no Brasil


Achei que a passagem de Madonna pelo Brasil seria mais alardeada. A venda de ingressos, que parecia uma compra por um lugar ao sol, foi mais bem coberta que os shows em si. Sinto falta de uma descrição mais detalhada, música por música, além - é claro - de uma exibiçãozinha de nada na tv. Fui uma das que tentou e não conseguiu ingresso e que, diante de algumas notícias, tem a sua frustração em estado crescente. Matéria de A Tarde aborda que cambistas vendiam ingressos comprados a R$250 por R$100.


Através da notícia, tem-se a impressão de que o furação não está causando tanto estrago. Depois de uma estréia bem-sucedida, porém debaixo de chuva torrencial, o segundo dia de "Stick and Sweet Tour" foi muito mais vazio.


Tudo isso é bastante estranho. Claro que nada poderia ser perfeito, mas imaginar um show de Madonna vazio (mesmo considerando exageros) é difícil. Quem passou pelo sofrimento da compra do ingresso não espareva menos que uma apocalypse para a primeira quinzena de dezembro, prova de que talvez a cantora não seja tudo isso que pensamos. Ela é diva e não deusa. Por azar nosso, aqui no Brasil, qualquer um pode ser uma estrela superior. Se não falar português, então, melhor ainda.



Com certeza, fico mais feliz com meu ingresso para ver o Radiohead em março do ano que não vai demorar a chegar. Mas aí já é outra história...

Foto: UOL

(Só para não esquecer: depois quero comentar tardiamente o ocorrido em Santa Catarina. Show de Madonna e Copa do Mundo não podem esconder a cruel realidade).

sábado, 13 de dezembro de 2008

E eles não devolveram o Bahia




Futebol, para mim, sempre foi um campo minado, metáfora explicada não só pelo meu leve desconhecimento sobre o assunto como também pelo perigo político que ele pode representar. Mas quando este se envolve com a política, sinto-me mais segura para falar alguma coisa. Da mesma forma que donos de empresas de comunicação não deveriam ser parlamentares, membros de diretorias futebolísticas também não.


Mas vamos ao que interessa. Marcelo Guimarães Filho*, deputado federal e cria do corrupto Marcelo Guimarães, ex-presidente do Esporte Clube Bahia, foi eleito o novo presidente do clube. Se da eleição participassem os torcedores, Marcelinho (como é chamado) não assumiria o posto. Nada melhor, para a corja, do que excluir o povo do processo político. É assim que se dá o continuísmo da corrupção e da politicagem em qualquer instância.


Coitados dos torcedores da Bahia. Ainda terão que engolir Paulo Carneiro. Digo "engolir" porque esse lobo transvestido de lã era da diretoria do Vitória (clube rival do tricolor) e não aprontou poucas por lá. Não esperam nenhum tipo de mudança, renovação ou melhora.


É por isso que futebol é, acima de tudo, perda de tempo. Paixão ? Tudo bem, mas paixão é algo que nos tem que dar orgulho, não? E nenhum torcedor baiano está em condições de estar apaixonado. Futebol é sinônimo de desavença, corrupção e, mais recentemente, morte. Posso estar sendo chata demais por levantar a bandeira anti-futebol, mas é que aproveito o meu desapreço por esse esporte para fazer as devidas críticas. Mas existem lá suas vantagens. Futebol é válvula de escape para os brasileiros. É uma ótima maneira de controle social através da cultura.


* Marcelinho, em outros tempos, foi coringa político de Antônio Carlos Magalhães, que precisava derrotar o seu então inimigo político, Benito Gama. Recebeu todo o apoio do ex-coronel baiano para sair vitorioso, e assim o fez.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

A volta dos que nunca foram




Acabei de ler uma notícia que, se não é de toda empolgante, ao menos deixa os fãs de rock mais felizes. O Kiss, banda que se consagrou por ter sido uma bem sucedida convergência entre rock e pirotecnia, anunciou que entrará em estúdio para gravar um disco de inéditas. Em 2009, o grupo completa 35 anos de uma carreira cheia de lacunas, altos e baixos.


Apesar de estarmos falando de uma das maiores bandas de rock que já existiu - não só pelo som, como também pelo caráter fenomenal - não é de se esperar um disco de qualidade. Exemplos como o lendário Chinese Democracy são exceções, em meio aos discos lançados por ícones da música que resolvem ressuscitar. O tempo do Kiss é o passado. Desde que Peter Criss e Ace Frehley, baterista e guitarrista originais, respectivamente, saíram da banda, já não se tinha rock and roll all night and party every day. Até que Gene Simmons e Paul Stanley tentaram manter-se no auge, tirando a pasta d'água do rosto e dando nova cara à banda, mas de nada adiantou. Nessa época, saíram bons singles como "Lick It Up", mas nem chegou perto da magia de "Detroit Rock City", por exemplo. O Kiss não era só uma banda que tocava rock; o espetáculo era algo inerente, o diferencial que tornou-os tão interessante.


É sempre válido esperar com certa ansiedade disco de inéditas daquela que foi uma grande banda. Mas o heavy metal que o Kiss fazia, creio eu, não encontra correspondência no presente, podendo o resultado desse novo trabalho ser constrangedor. Ao menos a turnê, que não se sabe se rodará o mundo, é garantia de qualidade. Vamos aguardar.
Na foto, Paul Stanley, guitarrista e membro fundador do Kiss. Jamais saiu do quarteto e será o produtor do próximo disco de inéditas.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Vamos bailar


Baile Esquema Novo, festa que tem sido a melhor do cenário alternativo baiano. Creio que gostaria ainda mais se os djs, com maior frequência, intercalassem em meio às obras-primas-sambas de Chico e a funk-samba-soul de Jorge, músicas mais populares e/ou modernas. Sinto falta de mais clássicos do Youtube e de som de carro, de eletrônica casada com a bossa e etceteras que estão desvinculados de qualquer conversadorismo.

Se eu fosse dj, tocaria tudo isso, fechando o set com "Acelerou", do Calypso.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008


"Music makes the people come together, yeah"


Por ainda permanecer um pensamento social arcaico, parece estranho ver Mallu Magalhães e Marcelo Camelo juntos. A diferença de 14 anos não é nenhum impedimento para qualquer relacionamento. Eu tenho uma teoria sobre o assunto. Para mim, todo o amadurecimento do ser humano acontece até os 21, 22 anos, em média. Depois disso, a pessoa pode até mudar de personalidade, tornar-se mais séria ou divertida; mais madura, não. Logo, relação entre um pessoa que já completou esse ciclo e outra que ainda está no processo pode não dar certo. Um romance entre um homem de 80 anos e uma mulher de 27 pode dar muito mais certo que um entre uma de 16 com outro de 30.

Mas deixa lá, esse blog não é uma oficina de anti-jornalismo inútil, a formar futuros profissionais para a Caras, Contigo e Quem Acontece.

Só espero que esse namoro traga bons frutos, como o amadurecimento musical de Mallu, que é o que realmente interessa ao público. É hora de pensar que estilo não é tudo na vida de um artista e que a cantora ainda tem muito o que crescer, em todos os sentidos. Mas Mallu está no caminho certo. O público e os críticos é que devem colocar os pés no chão. Se depender de Camelo, podemos esperar uma grande musicista para o futuro.

domingo, 23 de novembro de 2008

Inacreditável


Quem achava graça quando a expressão Chinese Democracy entrava nas rodas de conversa, vai ter que mudar a piada. O tão esperado álbum de inéditas do Guns N' Roses, banda que conta somente com o vocalista Axl Rose de sua formação original, finalmente foi disponibilizado no Myspace do grupo. O disco começou a ser gravado em 1997, mas só em 2002 foi anunciada a estréia, dando início a uma série de adiamentos que só tiveram fim hoje, 23 de novembro de 2008, com o lançamento oficial da aguardada democracia chinesa.

O mal que ataca bandas clássicas que tentam voltar, com sucesso, depois de anos de recesso, parece não ter atingido o Guns. Depois do retorno triunfal do AC/DC, com o seu excelente Black Ice, o Guns provou que, guardadas as devidas proporções, ainda consegue fazer um bom trabalho.

Nada compensa os aparentemente intermináveis anos de espera, mas a sonoridade do Chinese Democracy surpreende por ser moderno e, ao mesmo tempo, não deixar de ser o bom e velho Guns N' Roses. Em alguns momentos, como nas ótimas Better e Shackler's Revenge, parece estarmos ouvindo um disco de new metal. Mas, se persarmos bem, o que seria a junção do hard rock feito pelo grupo nos anos 90, aliado à modernidade do rock da nova geração? É isso aí que estamos ouvindo. Vale lembrar que o timbre vocal do vocalista continua intocável.

Os saudosistas da antiga sonoridade da banda não vão parar de ouvir a música que dá nome ao disco, além de Scraped e da balada Street of Dreams.

Fica aqui a dica para quem está a fim de escutar um bom disco de rock, com a referência de uma grande banda do estilo. Agora é sonhar com uma possível turnê por essas bandas.
[A música Better é, de fato, viciante. Tem todo o potencial para virar hit].

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O verão em Salvador promete ser mais do que ensaios de bandas de axé. Antes mesmo do seu auge, eventos culturais de teatro, música, dança e artes em geral têm movimentado a cidade, sobretudo a região que abrange o Pelourinho. Ações como essas, além de fomentarem a cena cultural da cidade, ajudam a diminuir os efeitos da degradação sociocultural pela qual passa o nosso velho Pelô. Bater palmas para a Funceb, talvez, não seja grande exagero.

Amanhã, no largo Pedro Arcanjo, vai acontecer um dos shows mais esperados por quem acompanha a cena musical alternativa. Móveis Colonias de Acajú (Brasília), Vanguart (MT) e a anfitriã Cascadura estão prontas para fazer a alegria do público, que há muito esperava por esse dia.

No outro final de semana, dia 29, quem não quiser (ou puder) ver a turnê do excelente cd Banda Larga Cordel, do (ainda bem) ex-ministro Gilberto Gil, poderá passar no mesmo local para conferir o show da Mallu Magalhães, que ainda contará com a participação da baiana Matiz.

Amanhã, aconselho que cheguem cedo ao local, pois a procura será grande. Os ingressos começam a ser vendidos três horas antes do show, marcado para as 20 horas, e custaram R$ 2 (inteira) e R$1 (meia).

São três grande bandas. Admiro o som absurdo feito pela Móveis Colonias e Vanguart. Muitos podem achar que a Cascadura é musicalmente inferior às duas primeiras, mas nada substitui um show desses caras. É sempre muito bom, com ótimo hits de rock em sequência.

Segue o clipe de Ele, o super-herói, do melhor disco do Casca, o Bogary:


http://www.youtube.com/watch?v=eG8vnPdB1pM

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Hope? Progress?


De certo, ontem foi um dia histórico para o mundo. Afinal, não é todo dia que se elege um negro, filho de queniana e com nome muçulmano para a presidência do país mais importante do planeta, os Estados Unidos da América. Barack Obama, desde o início da campanha eleitoral, representou a esperança de estadunidenses em desespero com a péssima gestão política e econômica de George W. Bush (por sinal, alguém sabe onde ele está?) e de estrangeiros, que esperam um novo tipo de comportamento relacionado à política internacional dessa nação.

Mas a cautela nunca é demais, e os nossos pés devem continuar onde estão, no chão. Como comparação, vale relembrar o momento da eleição de um operário semi-analfabeto para a presidência do Brasil. É memorável que, à época, chegaram a comparar Luiz Inácio Lula da Silva com o revolucionário argentino Che Guevara, pelo alto poder de transformação social que creditaram nele. Até hoje espera-se a tão falada "revolução lulista"...

Pois bem, voltemos à Osama. Opa, desculpa, quer dizer, Obama. Uma letrinha só acaba por me confundir. E por falar em terrorista, espera-se que o novo presidente dos Estados Unidos tire as tropas do Oriente Médio. Ele prometeu que fará isso aos poucos, ao contrário de McCain, candidato republicano tecnicamente derrotado, que tenderia a manter a estratégia militar adotada por Bushinho. Mas tudo depende da situação por lá. Não podemos esquecer que, antes de negro, democrata ou qualquer coisa que remeta à "qualidades", Obama é o líder estadunidense, e tem o compromisso de defender os interesses do seu povo. A questão é que, historicamente, essa postura tem sido tomada de maneira bárbada e injusta. A esperança, nesse caso, é que haja menos selvageria e loucura.

Lula, entre as dezenas de personalidades que comentaram a vitória de Obama, disse que espera um posicionamento favorável do democrata em relação à América Latina. O programa de governo do eleito, no entanto, deixa o biocombustível brasileiro em maus lençóis, já que foi prometido total apoio aos agricultores de lá de cima para plantarem o milho que dá origem ao álcool.


É claro que não se pode ignorar a importância da eleição de Barack Obama. "Sua vitória representa um momento de superação histórica para os Estados Unidos", disse o presidente brasileiro, em faz enviado à Obama. De fato, os EUA deram um passo à frente em termos políticos. Isso pode ser bom - ou não - para o resto do mundo. É mais correto pensarmos que estamos diante de uma caixinha de surpresas, ao invés de comemorar.

Por sinal, comemorar o quê mesmo? A vitória de um presidente estadunidense? Se é verdade que sua gestão pode refletir beneficamente em outros países - sobretudo os do Oriente Médio - é verdade também que estamos falando de um governo que é, historicamente, o carrasco mundial. Portanto, a comemoração só deve ter início quando os reflexos dessa mudança forem sentidos aqui, no Brasil. Somos brasileiros, lembram? Logo, não importa se os norte-americanos estão bem, o que vale são os nossos interesses. Queremos evolução, sim, queremos mudança. Mas queremos, sobretudo, fazer parte de tudo isso.


Hope? Progress? It doesn't matter if it's not in Brazil...








segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Onipresença política

Se não fosse a pauta sobre temakerias e um trabalho de sociologia, eu assistiria à corrida de Fórmula 1 até com certa empolgação. Quando eu era pequena, não perdia uma, o que é perfeitamente explicável, já que Airton Senna estava na pista.

Hoje poderia ser uma dia de comemorações para os brasileiros. Não sei se tenho conhecimento prévio para falar isto, mas Felipe Massa já é o novo Senna; e poderia ser por completo caso não dependesse de outros pilotos. Por fim, o Obama das pistas venceu da maneira mais vergonhosa.

Não sei vocês, mas eu acredito na influência de questões políticas em esportes. Quem acompanha futebol por Juca Kfouri e já leu muita literatura de esquerda tende a ser assim. A política está em tudo, creiam. Por exemplo, quem lembra de quando Rubens Barrichello foi obrigado pela Ferrari a deixar o seu companheiro de equipe passar na frente? Ok, ok, eu sei que foi porque Schumacher tinha chances de vencer o campeonato e dependia também daquele resultado mas, por que isso não poderia acontecer por questões políticas? Lembre que a coisa mais comum no futebol é a manipulação de resultados, sobretudo em favorecimento dos times do sudeste; ou será que ninguém ouviu falar da máfia de juízes do futebol brasileiro? Imagina se um time “periférico” vai ser campeão sobre um time de uma pequena parte da sociedade que comanda todo o resto do país...Da mesma forma que o piloto (que não sei o nome) pode ter amarelado no último minuto e deixado o Hamilton passar, ele pode também ter recebidos certas ordens de sua equipe. São todas possibilidades. Fico aqui pensando no que é politicamente melhor: um inglês ou um brasileiro ser campeão mundial...


Pois bem, é isso que o esquerdismo faz com a gente... Mas espero continuar sendo assim, com a desconfiança no seu nível máximo.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Para além das últimas consciências




Escrever é uma arte. Cada palavra bem colocada é como se fosse uma pincelada certeira na tela ou um bom design gráfico na web. Mas o elemento principal da arte é o seu conteúdo. Arte abstrata é desculpa esfarrapada.

O surrealismo é uma arte pouco compreendida, pelo seu caráter estupidamente subjetivo. Seus grandes representantes, Salvador Dali (na pintura) e Luis Buñel (no cinema, grande cineasta!) são verdadeiros gênios das artes, apesar do sentido estar nas últimas consciências do coração, sobretudo no caso de Dali.

Na literatura - para voltar à questão da escrita e do sentido - lembrei-me de Franz Kafka e a sua Metamorfose. Certas coisas sobre Gregor Samsa jamais ficarão claras.
Foto: O Sonho, por Dali.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Caminho errado

Minha falta de atenção me levou à avenida Tancredo Neves para nada. Acabei indo parar no Salvador Shopping, cuja fachada está escondida por andaimes de obras. Sim, o local passa por uma nova reforma. Os engenheiros que me desculpem, mas construir mais um poste naquela região é loucura e falta de sensibilidade. As pessoas de engenharia, assim como as da política, são treinadas para serem insensíveis. O Iguatemi já era o bastante para causar o caos cotidiano das seis da tarde e a prefeitura não soube fazer um bom acordo ao negociar a licença do shopping Salvador em troca da construção do viaduto que desafogaria a tráfego na região, financiada pelos empresários deste centro de compras e lazer. Como se não bastasse os engarrafamentos que crescem a cada dia, ainda revolvem levantar um centro empresarial e residencial ao lado do Salvador. Não, eu não desculpo os engenheiros. Não desculpo, muito menos, o prefeito João Henrique, reeleito com mais de 200 mil votos de vantagem. Não desculpo, sobretudo, cada eleitor que digitou o 15 na urna eletrônica.
Essa vitória do Mister Obrinhas representa grande perigo para a cidade, situação esta que a classe conservadora que o elegeu não imagina.
É previsível que haveremos de encarar mais quatro anos de anti-gestão, ou seja, de barbárie completa no palácio Thomé de Souza. A impressão que continuaremos a ter é de que a capital baiana não tem gestor, que está entregue às moscas. Quase isso. Os urubus que cercam a prefeitura para sugar sua (nossa) verba estão aí, mais fortalecidos que nunca. Mas há quem diga que Salvador tem gestor sim, ou melhor, gestora. Seu nome: Maria Luiza Carneiro. As boas línguas denunciam que a primeira-dama é quem realmente manda na prefeitura. Dizem ser uma mulher de pulso firme e de personalidade muito forte (para não dizer outra coisa).
O outro perigo - e esse sim mete muito medo - chama-se Geddel Vieira Lima, a versão nova e antipática de Antônio Carlos Magalhães. É... houve um pequeno e esperançoso período de transição entre o carlismo e o geddelismo. Mas 2010 vem aí, e o povo não perde por esperar, mas sim por dar poder a esse cafetão, líder do partido mais prostituído do Brasil. Hoje ouvi uma universitária dizer que "Geddel é o cara". Ela repetiu essa frase mais de duas vezes. "Geddel é o cara, rapaz, Geddel é o cara...".
Confesso que tive mais medo que vergonha.
[Os ditos populares são sábios: cada povo tem o governo que merece]

sexta-feira, 24 de outubro de 2008


A idéia é dar movimento a tudo isso. Que tal desacelerar outros ritmos e transferir o gás para objetivos mais primordiais?
O Café com Prosa de hoje me fez pensar em várias coisas. Pensei em atitude, sobretudo.
E viva la vida, já que death and all his friends eu passo adiante.




Agendamento

Toda vez que casos como a da "menina" Eloá explodem na mídia - fatos que deveriam ser extraordinários mas acontecem com cada vez mais frequência - pergunto-me se vale mesmo a pena acompanhá-los. Seria apenas uma questão de agendamento, em se tratando de jornalistas, e de estar inserido em debates, no caso do público.

Nunca hesite em se perguntar se vale a pena estar todo dia conectado ao G1 ou ligado aos grandes telejornais acompanhando tais tramas. Ou melhor, não tenha medo de negar tudo isso. Informe-se, procure saber o que está acontecendo, mas não se envolva com a novela dos meios de comunicação. O sensacionalismo exacerbado incomoda, a exploração da dor de quem sofre é cruel. E o pior: o papel fiscalizador e denunciador da imprensa não é cumprido. Quem está se questionando qual a origem social do problema de Lindemberg Alves, que assassinou sua ex-namorada e quase vitimou uma amiga dela? Quem está criticando a ineficiência e a irresponsabilidade com a vida por parte da polícia brasileira?

Prefiro deixar de debater questões e não alongar o post, não quero agendar-me agora (apesar de, somente em comentar, coloco-me inserida nesse círculo vicioso). Comemorar, por exemplo, o grande número de editais que estão beneficiando os curtas do cinema baiano é muito mais interessante. Prestar atenção aos festivais de cinema que andam acontecendo, torcer pelos brasileiros que concorrem em diversas categorias, isso sim é interessante e, de uma forma ou outra, mudam nossas vida.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

"A palavra é o meu domínio sobre o mundo"



As críticas à Clarice Lispector são completamente infundadas. Costumam dizer as más línguas que essa magnífica escritora escreve fácil. Mas o que seria, afinal, escrever fácil? Não usar palavras difíceis, que só os bons letrados entendem?

Há controvérsias. Clarice, por exemplo, nos prova que somos fracos em matéria de existencialismo, porque nos mostra de maneira - se preferir - fácil, clara e direta, questões da nossa essência que deveriam estar ao nossos olhos, mas que raramente enxergamos. Quem já não se pegou sussurando um "hum, é mesmo", ao ler alguns de seus contos? São conclusões óbvias que ela, magistralmente, apresenta-nos.

O cuidado em acusar algum escritor de "escrever fácil" paira sobre a questão do sentido do que se escreve. Nesse caso, Clarice é uma das escritoras mais difíceis de se ler, muito mais complicada que qualquer escritor que maqueia idéias simples com palavras incomuns. Você apenas pensa que entendeu Clarice, assim como pensa que entendeu Kafka, Drummond ou Saramago.

E é por isso que Clarice foi a maior escritora brasileira dos últimos tempos. Ela nos prova que formalismos linguísticos de nada adiantam. Aquilo que é o mais importante, ainda estamos longe de entender.
"Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho." (Clarice Lispector)

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Análise de resultados

Conclusões sobre o segundo turno - Aconteceu o que mais os cidadãos conscientes temiam: o atual prefeito João Henrique está no segundo turno, lado a lado com o petista que tenta desbancá-lo, Walter Pinheiro. Na verdade, talvez, Pinheiro não esteja tão em pé de igualdade com o peemedebista, já que este, provavelemente, vai angariar o apoio do terceiro colocado no primeiro turno. Ao que tudo indica, ACM Neto e o seu DEM vão apoiar João. Para Pinheiro, restam apenas os oito por cento do eleitorado de Antônio Imbassahy, que já formalizou apoio ao PT, e os cerca de 50.000 mil votos do regueiro Hilton Coelho que, caso não mude de opinião, vai estar com Pinheiro no segundo turno.

Essa conversa, vale lembrar, é totalmente hipotética e teórica. É evidente que o simples fato de um candidato declarar apoio à outro não condiciona seus eleitores ao seu "beneficiário". Nem mesmo os que não têm opção vão nessa onda; preferem reescolher seu político.

A tendência é que as pessoas mais velhas e/ou conservadoras votem em João Henrique. Não que não haja conscientes entre estes, mas é no mínimo desconfiável esse tipo de cidadania. Os outros, que reprensentam a juventude, classe universitária, professorado e a população que não tropeça em qualquer buraco de obra pela cidade, deve acreditar em Walter Pinheiro. Votarão nulo os que jamais colocam o raciocínio político sobre ideologias e os que não se conformam com o bom banho que levou o carlismo.

Que fique claro que não acho feliz a idéia de votar no Partido dos Trabalhadores. Continuo com o mesmo desgosto e repugnância de sempre. Mas, pela lógica do "menos pior", é a nossa única opção. É de envergonhar-se, um pouco, de pensar dessa maneira. Mas nesse contexto, extraordinarimente, sou contra o voto nulo, já que mais quatro anos de João Henrique seriam insuportáveis. Como o próximo presidente da república provavelmente será do PSDB (partido aliado do PT), o mandato de Pinheiro tem chances de seguir em paz até o final, contrariando alguns argumentos de quem vai votar 15 no segundo turno.


Leo Kret do Brasil - Eleito (ou, como esse ser gosta, "eleita") com expressivos 12.861 votos para a Câmara Municipal de Salvador. Quando São Paulo eleger para a Assembléia, nos primeiros lugares, Paulo Maluf e Clodovil Hernandez, não critique!

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Eleições 2008

É de irritar e encher o saco o cenário das eleições municipais de Salvador. Poderia discorrer em inúmeras linhas as bizarrices dos caras-de-pau, que se traduzem em absurdos políticos. Então é aquilo de sempre: mais quatro anos de decepção e desamparo. Ficaremos, como sempre, entregues à própria sorte.


Não vou falar absolutamente nada, além de uma pergunta do candidato Antônio Imbassahy ao atual prefeito João Henrique, no debate promovido pela Rede Bahia. Transformei-a em metáfora:


-Mario Kertész fala por você?



(Enquanto deixarmos que os Marios Kertész da vida falem e decidam por nós, as coisas vão ficar como estão. O resto da interpretação é com vocês...)

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Além do que se via


Músicas, arranjos e banda nova. Mesma histeria e gritos de louvor, típicos de fãs losermaníacos. Assim foi o lançamento do disco Sou de Marcelo Camelo, ex-vocalista dos Los Hermanos, na Concha Acústica do Teatro Castro Alves (TCA), no último domingo, 28. Acompanhado pela banda paulista Hurtmold, Camelo mostrou seu novo e suave repertório, mas ainda precisa de tempo para sobrepor suas canções aos sucessos da antiga banda.

Começando o show com um banquinho e um violão, Camelo logo deu o tom do que viria pela frente: um artista que segue a cartilha da bossa nova, mas consegue incorporar elementos modernos às músicas, à exemplo da ótima Mais Tarde. Muito bem acompanhado pelo instrumental da Hurtmold, o cantor passeou pelo curto repertório, destacando-se Menina Bordada, Liberdade, Vida Doce, Janta e Doce Solidão, as duas últimas com potencial para single, cantandas em forte coro pelo público, que demonstrou conhecer todas as músicas.

O atraso de cerca de cinqüenta minutos não tirou o ânimo de uma Concha que não estava lotada, mas tinha um número de pessoas acima do que era de se esperar. Braços para cima, músicas cantadas com paixão e luzes de celulares denunciavam que ali estavam, em grande maioria, os fãs da indefinida Los Hermanos. O cantor falou dos momentos fortes que já viveu naquele lugar e chegou a dizer que já era velho para agüentar tanta emoção.

Camelo, para delírio do público, começou a relembrar os velhos tempos com Morena, passando depois por Pois É, Fez-se Mar, Adeus Você e A Outra, todas de sua autoria. Ao final, alguns ensaiaram um desnecessário “ú! Los Hermanos! ú! Los Hermanos!”. O artista ainda tocou Quem Vem Pra Beira Do Mar, de Dorival Caymmi, e improvisou um instrumental com sua banda de apoio.

O momento do bis, anunciado pela estrela da noite, foi de maior animação, com auge em Copacabana, marchinha dançante que abre passagem para o disco. Durante toda a apresentação, pessoas eram vistas sentadas pelas escadarias do local, o que denota, talvez, melhores condições de um teatro para sediar esse show.

Pouco antes das nove da noite, quando as luzes da Concha Acústica, que passaram o show inteiro apagadas, já estavam acesas, fãs colados no púlpito contavam com a ajuda dos roadies para lhes garantir palhetas, set lists ou qualquer outro objeto que fizessem lembrar daquele artista, que começa a se consagrar como grande músico e compositor além de uma banda de rock.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Em pauta

Meu blog anda um tanto abandonado. As razões são as milhares de coisas que me meti a fazer e que estão tomando quase a totalidade do meu tempo. Talvez seja a hora de descontrair. Deixei passar assuntos bons, discussões quentes. Mas espero conseguir me organizar e atualizar isso aqui como devo, frequentemente.

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Comparam-se por aí a atual crise do mercado estadunidense com o famoso crack de 1929 da bolsa de valores desse mesmo país. E pior, certo jornal chegou a afirmar que a falência múltipla dos bancos dos Estados Unidos é situação mais crítica que as ações fantasmas que assombravam o mercado lá pelo final da década de 1920. Sinceramente, não parece (por enquanto). Se bem me lembro dos módulos de História, aquela crise foi catastrófica, deixando milhares de desempregados e falidos pelas ruas do país, além do forte impacto negativo nas economias mundo afora. Por enquanto, apenas acompanhamos as reuniões entre Bush, McCain e Obama e as tensões de economistas e envolvidos no tema. Ainda não se sentiu nenhum impacto direto ou indireto da crise, talvez por ela ainda estar efetivamente no começo; já se fala em colapso do "mercado norte-americano" há muito tempo. A grande questão é: depois de 1929, os Estados Unidos se reegueram de maneira absurda, consolidando-se como potência política e econômica definitiva. Caso essa nuvem carregada vá embora, será que o grand finale vai ser o mesmo? Eu tenho as minhas dúvidas.

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Sou, primeiro disco da carreira solo do eterno hermano Marcelo Camelo, parece estar dividindo a crítica. Enquanto uns falam que o disco é chato, outros fazem comparações positivas à Caymmi e Chico Buarque. Dizem que ao vivo há muito mais vida na música de Camelo. Na noite do próximo domingo, poderei falar alguma coisa. Também não posso comentar as músicas ainda porque o cd está demorando de chegar aqui, onde posto. Mas adianto: nada amenizará a falta que o Los Hermanos faz. Nada.
[Volto com dois assuntos desconexos, mas "em pauta"]

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Sua opção sexual vale seu voto


Os diversos movimentos cívicos hoje configuram-se mais como uma oportunidade de propaganda para diversos setores do que um momento de protesto, como fora no ínicio da maioria destes. A Parada Gay de Salvador não é diferente. A sua sétima edição ocorreu no último domingo, dia 14, com forte propaganda política.

O que mais era nítido, ao menos na praça do Campo Grande, era um sem-número de candidatos a Câmara de Vereadores distribuindo seus santinhos e pedindo o voto dos transeuntes. Nada mais que natural, apesar de incorreto, que se faça um bom proveito desse tipo de situação, principalmente quando se trata de uma grande festa.

A parte mais séria dessa história toda envolve o Grupo Gay da Bahia (GGB), organizador do evento, cujo tema foi "Seu voto vale sua vida". Marcelo Cerqueira, presidente do GGB, é candidato a vereador pelo Partido Verde (PV) e lá estava, com o seu carro de propaganda, santinhos e cartazes. Soa bastante estranho este lema se pensarmos nos interesses de Cerqueira. É o mesmo que dizer para os GLBTs votarem nos GLBTs. Essa idéia de facções sociais na política é perigosa. Cada político deve ter suas pautas específicas, mas não devem ser limitados a defender os direitos dos idosos - se são idosos - ou dos homossexuais - se os são, por exemplo. Por sinal, o que faria um candidato para defender os direitos dos homossexuais? Conseguiria mais verba para a próxima Parada? Exigiria mais respeito? Bem, heterossexuais, homossexuais, transsexuais, não importa. São todos cidadãos em iguais direitos e condições na sociedade (ou pelo menos deveria). Defender o direito de uma lésbica, por exemplo, é defender o direito de toda mulher. Essa necessidade de selecionar facções de eleitores é mera estratégia política.

O caso piora quando lembramos que o evento utilizou dinheiro público e obteve apoio de algumas Secretarias do Estado, dentre elas a de Cultura. Ou seja, o presidente do GGB fez propaganda política usando dinheiro público. As acusações são tão graves quanto as evidências.

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No mais, a Parada foi fraca, com forte presença de heterossexuais (deveria ser o contrário) que foram atrás apenas do grande carnaval. Bom para os pequenos comerciantes, que venderam umas cervejas a mais, os candidatos à Câmara Municipal, que mostraram suposto apoio à causa gay e, claro, para Cerqueira.


sexta-feira, 5 de setembro de 2008

AI-5: uma sombra que pairou sobre a imprensa brasileira


Por Renata Alves

No trigésimo aniversário do AI-5, ato institucional que endureceu o regime militar no Brasil, debater seus efeitos sobre o jornalismo baiano faz parte das emblemáticas comemorações. O Café com Prosa, evento promovido mensalmente pela Faculdade Social da Bahia, reuniu no último dia 28 alguns nomes da imprensa baiana para debater a importância de ter coragem e não se intimidar com a força do exército naquele momento.

“Minha geração foi a que teve todos os pecados do mundo, mas foi a que resolveu enfrentar a ditadura”. Emiliano José, jornalista, professor da Faculdade de Comunicação da UFBA e agora deputado federal, resumiu sua postura durante o que chamou de “ditadura militar terrorista”. Para ele, a mídia nacional, sobretudo a do eixo centro-sul, compactuou com os militares, evidenciando uma vocação colaboracionista do jornalismo brasileiro.

José ainda acrescentou que a imprensa regionalizada tinha mais problemas, fazendo crítica ao Jornal da Bahia que, segundo ele, foi conivente com a ditadura, apesar de ter feito oposição ao governo de Antônio Carlos Magalhães. Não esquece, no entanto, de lembrar com elogios das figuras de João Falcão, criador do periódico, e Sérgio de Souza, fundador da revista Caros Amigos e editor do jornal por dois anos.

O deputado contou como iniciou a carreira jornalística. Sem nenhuma formação na área, ainda preso, José ouvia as notícias no rádio, elaborava notas em um papel e fazia-o circular por todas as celas. “Todos tomavam conhecimento do mundo. Aquele era o nosso jornal, uma coisa extraordinária”, contou. Ao sair do presídio, logo foi chamado para trabalhar na Tribuna da Bahia. Assim como muitos repórteres da época, não dominava técnicas da notícia por ainda não haver curso de jornalismo no estado. José ressaltou a importância da garra dos repórteres e dos jornais alternativos, que existiam para provar a covardia da imprensa brasileira.

Outro comunicador presente à mesa foi Manuel Canário, radialista da Rádio Sociedade por muitos anos, incluindo o período do ato institucional nº 5. Canário disse sempre ter trabalhado dentro das regras impostas. Nunca deixou de relatar as notícias, mesmo quando estas diziam respeito ao regime militar. Ele explica que isso era possível devido ao imediatismo do rádio e o conseqüente atraso da escuta militar, que censurava o conteúdo veiculado. Logo que sabia do fato, o radialista corria para o estúdio e improvisava a locução.

Canário jamais foi preso pelos militares. Segundo ele, tal “período de exceção” encorajou alguns jornalistas e atestou a frágil personalidade de outros. O radialista disse aos futuros jornalistas que é necessário correr os riscos da profissão em prol do interesse público. Quando perguntado sobre como sabia dos fatos, ele brincou. “Um passarinho me contou, afinal de contas, meu nome é Canário”, referindo-se às pessoas que o ligavam para passar as informações.

Completaram o grupo de debate o também radialista Pacheco Filho e Afonso Maciel, advogado, professor e ex-presidente da Associação Baiana de Imprensa (ABI). Filho explicou que a sua função era fazer rádio para “divertir, educar e informar”. Por ter trabalhado neste meio com entretenimento, ele pediu desculpas pela fraqueza de argumentos em uma discussão sobre o que chamou de “valentes de última hora”.

Já Maciel teve muito o que contar. Enquanto presidente da ABI, de 1970 à 1972, relacionou-se com militares e governantes, o que rendeu diversas histórias, escutadas com atenção pela platéia composta por alunos, professores e curiosos. Para o advogado, o período do AI-5 foi o de menor liberdade política e de expressão. Aos 87 anos, as memórias de Maciel são completadas por uma coleção de cerca de trezentos bilhetes que recebeu da Polícia Federal na época da ABI, proibindo a veiculação de certas notícias. Sem dúvida, uma aula sobre a história da imprensa no Brasil.

domingo, 24 de agosto de 2008

Com os pés no chão


Está na hora de repensar o esporte no Brasil. A derrota coletiva dos brasileiros nas Olimpíadas, fechada com o banho que levou a seleção masculina de vôlei na madrugada de hoje, provou que há ainda muito o que se investir nessa área.

O país-sede desse mundial não é uma potência esportiva à toa. Os chineses sempre valorizaram o esporte, incentivando-o nas escolas desde cedo. Para não fazer feio nas apresentações, as meninas da ginástica, por exemplo, passaram por um forte esquema de treino, ficando a maior parte do tempo nos centros no preparo para alcançar a tão sonhada medalha de ouro.

No Brasil, o que falta é esse tipo de incentivo. Onde está o Ministro Orlando Silva para implantar um eficiente programa de iniciação esportiva? Onde estão os patrocinadores para financiar os inúmeros talentos por aí perdidos? Se esse movimento, que só apresenta resultados a longo prazo, não for feito, a decepção das duas últimas semanas se repetirá com frequência. Ou melhor, a palavra "decepção" deve vir entre aspas, porque quem tem consciência desse problema já não espera muito dos brasileiros em competição esportivas, salvas raríssimas exceções.

A fama de que os brasileiros são um dos melhores nos esportes está caindo por terra. É hora de colocar os pés no chão e lutar por uma nova realidade.

Mas não vamos ser tão algozes. Esse ano, de fato, não foi do Brasil, apesar dos talentos que nos representavam nessas Olimpíadas. Eu falava de decepção, ela pode aplicar-se à Diego Hypolito, Fabiana Murer e as seleções feminina de futebol e masculina de vôlei. Não levaram a medalha mais desejada, mas são todos atletas de ouro. Vamos esperar que o acaso não seja cruel com eles nas próximas competições.

Na foto, as responsáveis por um das nossas três medalhas de ouro. Parabéns, garotas, por calarem a boca de quem confunde amarelo com dourado.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

O sonho que pode virar pesadelo

Que a violência toma conta de nossa cidade, isto não é novidade. O mais recente absurdo noticiado foi o "toque de recolher" dado por traficantes em sete bairros da capital, determinando o fechamento de escolas, comércio e, claro, aterrorizando a população desses locais.

O mais novo epsódio violento chocou os baianos por ter ocorrido em ambiente universitário - onde, teoricamente, deveria haver o mínimo de preocupação com a tranquilidade dos estudantes - e de forma brutal. Como os diversos jornais já noticiaram, uma aluna da Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia (UFBA) foi violentada sexualmente logo atrás do seu prédio de ensino, ou seja, dentro do campus, que localiza-se em Ondina.

Antes de entrar no objetivo do post, não posso deixar passar o debate que já se encaminha pela sociedade há tempos. É o cúmulo do descaso expor os alunos dessa maneira, dando pouca importância a violência que permeia todo e qualquer ambiente da cidade. Problemas como a má-estruturação dos campi e a falta de profissionais de segurança (para proteger o patrimônio humano, vale lembrar) acusam urgência em soluções efetivas.

Há muitas versões para o caso. A delegada titular Patrícia Nuno, em um show de frieza, disse não ter havido o estupro. Já os estudantes afirmam o contrário, e ainda acrescentam que ela estava de calça (não de short, como relatado) e durante um aula. Por ter se distanciado do grupo, acabou sofrendo a abordagem. Logo após o fato que, pasmem, aconteceu no início da manhã (quase às nove), a aluna foi acolhida por professores e colegas do Instituto de Letras.

Muitos alunos afirmam que casos de estupro e assaltos são frequetes na UFBA, o que os forçam a conviver com o medo diariamente.

Questões relacionadas já foram amplamente abordadas na imprensa, discussões informais e reuniões entre representantes estudantis e da UFBA. Mas ficam nebulosos nessa história toda dois pontos.

Como o reitor planeja renovar a UFBA, correndo atrás de cifras milhionárias para implantação de novos cursos, se a estrutura da velha universidade está deficiente? Implatar cursos noturnos, como prevê o projeto, é uma loucura sem tamanho, se pensarmos a segurança na universidade como se encontra hoje. Naomar de Almeida Filho, reitor da instituição, já demonstrou que o seu principal objetivo é "modernizar" (leia-se transformar para chamar a anteção) o sistema de ensino, mesmo que passando por cima de questões deficientes básicas, sendo a segurança a principal delas.

Neste âmbito, a discussão sobre a guarda universitária é necessária. Os alunos devem, até o último momento, lutar contra a presença da Polícia Militar (como quer o senhor Naomar) nos campi, pois poderia gerar um aumento da tensão, visto que a ação dos pms é sempre questionável.

O outro grave debate está em torno, mais uma vez, de declaração absurda e , neste caso, machista. Francisco Mesquita, vice-reitor da Universidade, tentou atenuar a situação dizendo que foi um "acidente" e que a o fato da garota estar de short incitou a situação. "Acidente", como diz um estudante de teatro, porque não foi a filha dele. Desde quando tirar a dignidade de uma pessoa é acidente e não um crime, passível das mais terríveis condenações? Já o "shortinho", este jamais servirá como argumento. Ou melhor, não há nem o que discutir quando se imagina que alguém já tentou justificar um caso de estupro. Restam somente a indignação e o desprezo.

domingo, 17 de agosto de 2008

O CQC salva

O blog anda abandonado porque minha mente acompanha a morbidez crítica do mundo. Os fatos - e que fatos - estão acontecendo, mas nada me incita o comentário. Tudo é mais do mesmo. Há também, vale ressaltar, alguma falha com a que agora escreve.

Para que esse post não seja de todo inútil, indico um programa bacana que está no ar na TV Bandeirantes (sim, há algo que preste ali além de um jornalismo razoável). Estou falando do CQC (Custe o Que Custar), liderado pelo fera Marcelo Tas, que tem um dos blogs mais legais da rede. O programa ainda conta com a participação de alguns excelentes humoristas do estilo stand-up comedy, como Oscar Filho, conhecido no gênero. Quem gosta de humor inteligente pode procurar os vídeos dessa turma no Youtube ou ligar a tv na Band, toda segunda-feira, sempre às dez da noite. As risadas são garantidas.

Dos inúmeros vídeos genais, há um interessante para postar.

*Os nossos preparadíssimos candidatos à prefeito:



segunda-feira, 28 de julho de 2008

Boa música

Há quem critique - e muito - essa tendêncida da chamada "nova mpb" de flertar com o que há de moderno na música. Bases eletrônicas em meio às batidas da bossa nova, por exemplo, podem ser uma boa opção. É o que chamo de reciclagem musical, que significa inovar persistindo no velho e bom:






terça-feira, 22 de julho de 2008

Reviravoltas


Tem sido interessante observar os rumos que anda tomando as eleições municipais previstas para outubro. Em Salvador, há tempos que não se vê um período eleitoral tão surpreendente, cheio de reviravoltas. Mesmo com a avalanche de acontecimentos que envolvem o processo, no entanto, há indícios de que o grand finale disso tudo culminará em mais do mesmo: os três candidatos na dianteira das pesquisas de opinião representam a força do carlismo, um híbrido do mesmo e mais quatro anos de um “governo de obrinhas” (ACM Neto, Antônio Imbassahy e João Henrique, respectivamente).


Walter Pinheiro que, por conta de embates dentro do próprio PT, demorou a apresentar-se como candidato do partido, amarga um quatro lugar nas pesquisas. Pinheiro, apesar de ter certa simpatia política, é desconhecido e, certamente, não tem chance nessa eleição, mesmo tendo como vice Lídice da Mata, que será o motivo de muitos dos seus votos. Por conta de alianças nacionais descabidas entre partidos que, teoricamente, são de linhas ideológicas diferentes, o apoio do presidente Lula e do governador Jaques Wagner não está definido. Seria lógico que estes se manisfetassem a favor do candidato petista e que deixassem claro, caso o PT fosse vitorioso, que seria mais fácil para Pinheiro governar, pois sendo todos de uma mesma aliança, um mesmo partido, tudo iria convergir para um mesmo objetivo.


Mas as coisas não são tão simples, e o eleitor não pode pensar logicamente. Não deve votar em um partido, e sim em um candidato, por conta de alianças sem nexo. Ou melhor, sem nexo ideologicamente, mas que fazem muito sentido na hora de se conseguir apoio para governar.


Tudo isso para falar do PMDB, partido do chatíssimo Geddel Vieira Lima, que acredita ter o controle de toda e qualquer situação, sendo muito seguro de si. Isso é bom para um político, mas não o essencial. Pesquisas revelaram que o apoio do ministro a algum candidato pode trazer-lhe mais prejuízos que benefícios. João Henrique que se cuide. Graças a aliança PT-PMDB, o presidente Lula (comprovadamente, o maior cabo eleitoral de um candidato) não vai se manifestar em capitais onde cada uma das legendas possuir candidatura própria. Wagner, sutilmente, manifestou sua preferência por Pinheiro, mas, já era, foi-se a última esperança do petista.


Agora falemos do Netinho que, em uma cartada de mestre, conseguiu o apoio do maior “arrasta-massas” do Estado, Raimundo Varella, e do bispo Márcio Marinho, que será seu vice. Se já se sairia bem nas pesquisas por remeter ao nome e prestígio do avô, ACM Neto só tem, agora, o que festejar. Sua vitória parece estar garantida e qualquer mudança nesse quadro será surpresa (vamos torcer!). Infelizmente, os principais cabos estão com ele. Varella, nada mais que um escandaloso, que engana o povo com seus tapas na mesa e gritos sem efeitos, estava na em primeiro nas pesquisas quando ainda pensava em se candidatar à prefeitura de Salvador. Deve ter embolsado uma bolada para desistir e apoiar a chapa do DEM. Márcio Marinho, bispo da IURD... precisa dizer mais alguma coisa? Ainda há dúvidas de que a maioria da população está com eles?


Coitado mesmo é de Imbassahy que, não fosse essa pequena - porém avassaladora - aliança, teria grandes chances de se reeleger. Creio que não tem, apesar do empate técnico entre os três primeiros colocados. Somente uma reviravolta durante a campanha para mudar esse quadro.


Não posso deixar de falar do candidato Hilton Coelho, que tentará chegar ao Thomé de Souza pelo PSol. Ninguém fala o seu nome, muitos nem sabem que este está na disputa, mas é bom que se lembre dessa ínfima, porém necessária, oposição. Coelho aparece na foto desse post. Nada mais justo, afinal, ele é o que mais precisa de divulgação.


Vale lembrar a eleição municipal de Salvador ainda pode ser considerada uma caixinha de surpresas...

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Apesar de tudo

(Ouro preto)
(Congonhas do Campo)


(Praça da Liberdade - Belo Horizonte)


Férias, por hora, podem ser um problema para a vida intelectual do estudante. A fadiga eterna, a certeza de saber que não há necessidade de se produzir algo útil, tudo isso nos amolece. O ócio criativo, pela primeira vez na minha vida, não funcionou.

Para começar, o tempo que passei nas Minas Gerais foi de leitura zero. Levei dois livros, mas quem disse que os parentes me deixavam em paz? Por outro lado - e aí, sim, obtive um outro tipo de ganho cultural - pude descobrir um pouco mais sobre a história dos inconfidentes, que acaba se confundindo com a própria história do Brasil. Por conta disso, os guias turísticos e até os próprios cidadãos, quando falavam de sua cidade, transpareciam orgulho e afeto.

É o que nos falta, baianos, apesar de tudo, orgulho da nossa cidade, o verdadeiro nascedouro.

Há uma boa comparação a se fazer. Dois estados que, cada um ao seu modo, em decadência, foram assumidos por governadores que prometiam mudança. Aécio Neves, em Minas, e Jaques Wagner, na Bahia. Para as bandas de lá, o provavel futuro presidente do país parece agradar as massas. Reformou praças, inaugurou hospitais, aumentou o salário dos professores do Estado. Segundo o meu primo Victor, ele "pegou um Estado quebrado e melhorou cem por cento". Mas não posso olhar a situação por um único lado, ponderar é necessário. Como turista, conheci apenas a parte "consertada" da cidade, os pontos referenciais, etc. Meu tio, delegado afastado da Polícia Federal, foi o único a falar mal do "Aécio Cheira Neves". O sobrenome do meio dispensa qualquer explicação. Já o Sr. João Wilton, não. Como bom partidário da sua classe, diz que esse governo é uma grande farsa. Incrível como a relação entre a polícia e o Estado, em qualquer cidade, é delicada. É incrivelmente absurdo, um verdadeiro show de irresponsabilidade (o problema da segurança pública parece não incomodar mais...). Por não estar inteiramente por dentro do cenário político de lá, incluindo as necessárias posições da oposição no Estado, mal posso tirar conclusões. Posso apenas arriscar que a situação não seja tão diferente da nossa.

Jaques Wagner assumiu o governo baiano promentendo revolucionar a política por aqui (talvez ele ainda não sacou que o PT nada entende de revolução...). Prometeu mudanças, óbvio, como todos os outros. Mas o que ,a cada dia, me deixa mais convicta é a certeza de que o único setor de melhoras foi o cultural. De resto, percebo uma estagnação incrível. Inclusive no caso da segurança, que sempre foi assim, essa questão frágil. A diferença é que o governo carlista conseguia facilmente camuflar as informações na imprensa, forjando situações sem cabimento. Em termos estruturais, tentei colocar-me como turista em Salvador para compará-la a Belo Horizonte. E cheguei a tristes verdades. A capital da Bahia, que vive do turismo, não se pode deixar degradar da maneira como está. Não pode se iludir com a "gestão de obrinhas" de João Henrique, muito menos com uma suposta melhora trazida pelo governo Wagner. Somos mais críticos com o que é nosso (ou deveria ser), claro, mas BH me pareceu mais preocupada com suas aparências, que podem enganar, vale lembrar.

Tudo isso para dizer que minha letargia intelectual talvez tenha sido apenas uma impressão. Aprendi muitas coisas, inclusive algumas pessoais, que não são de utilidade pública.

Assim sendo, não há problemas, "Demian" pode esperar mais um pouco.

sábado, 14 de junho de 2008

Back to the rocks

Dia desses eu tive um surto nostálgico e fui escutar uma das bandas mais monstruosas de todos os tempos, que me acompanhou durante toda a pré-adolescência e adolescência, o Deep Purple. Não é qualquer um que está preparado e, confesso, tem saco para escutar o Deep. Tem que gostar muito dos instrumentais e do tiro certeiro do rock clássico. E tem que estar pronto para viajar na psicodelia também.

Foi quando comecei a pensar nessa história de “educação musical”. Creio que as pessoas cujos pais não gostam ou não têm o costume de ouvir música, acabam se educando com amigos, a mídia e tudo o que as cercam. Já quem, como eu, tem pais amantes de música, tendem a gostar do que cresceram ouvindo nas vitrolas e fitas cassetes. Foi o meu caso. Claro que vai se absorvendo coisas novas, mas tudo segue a essência que lhe foi "imposta", por assim dizer.

Eu já devo ter falado que sempre fui muito saudosista musicalmente, por causa de meu pai. Já a mamma nunca foi tão apaixonada por música como ele, mas a culpa dessa minha fixação pelo rock dos anos 80 nacional é dela. Semana passada mesmo, ela me pediu uma coletânea com as melhores de Lobão, Paralamas, Kid Abelha, Titãs, Paulo Ricardo (ela quis dizer RPM) e "Barrados no Baile", canção de um cara chamado Eduardo Dusek, sucesso absoluto naquela época. Eu disse, "vai ser uma coletânea em três volumes, no mínimo".

Mas quero falar mesmo das influências que tive de meu pai. A primeira, maior e eterna, com certeza, foram os Beatles. Desde pequena eu escuto o long play do "Help!", lembro que este e o primeiro disco, o "Please Please Me", eram os meus prediletos. Essa fissura pelo “Help!" tem razão de ser, já que meu pai não pára de escutar; tem uma música nele, “You’re gonna lose that girl”, que ele simplesmente ama. Quando cresci e amadureci musicalmente, passei a venerar o Abbey Road, que sempre esteve lá junto com os outros discos, mas não dava tanta bola. O Revolver também é considerável. E não, ao contrário de muita gente, o Sargent Peppers não está entre os favoritos, o que não tira o mérito deste – é tudo uma questão de gosto. Falar de Beatles é difícil para uma fã, sobretudo no momento de dizer títulos.

Outro movimento que aprendi a amar com Seu Elias é a jovem guarda. Eu não tinha como escapar, ele toma doses semanais sagradas de Renato e seus Blue Caps, Roberto, Erasmo, The Fevers, Ronnie Von, Leno, Os Incríveis, etc, desde que me entendo por gente. Ah, não posso esquecer da "disco music" dos anos 70. Meu pai adora, e eu amo. Também não vou deixar de citar o A-ha que, por sinal, nunca mais escutei, estou na saudade.

Bem, falei dessa minha essência musical para tentar entender a queda que tenho pelo rock antigo. Quando eu comecei a escutar rock mais pesado, parti logo para a monstruosidade, por ter esse apego com velharia. E não foi por influência de meu pai. Eu fui descobrindo as bandas no mundo, de acordo com tal identificação. Incrível, ele odeia todas as bandas que acho fantásticas. Led Zeppelin? Deep Puple? Ac/dc? Pink Floyd? Kiss? “Nunca ouvi uma coisa tão ruim”, ele diz. Tem até uma situação engraçada. Uma vez estava eu, nas Lojas Americanas, quando vi um disco do Rush, que nem lembro mais qual era, só sei que estava a dez reais. Comprei e pedi que ele escutasse. Nossa, meu pai odiou muito, escaldou tanto que fiquei até sem graça na hora, e eu adorava seriamente o Rush* (hoje em dia nem ligo mais).

Até pouco tempo atrás eu tinha aversão a coisa nova. Não escutava nada mesmo. Só de uns tempos pra cá é que passei a ouvir qualquer bandinha que estoura por aí. Acho até que o nível do meu gosto musical desceu um pouco. Não é que eu leve música menos a sério, pelo contrário, é que aprendi que nem tudo o que a gente escuta tem que ser necessariamente bom. A questão é você saber classificar o tem qualidade ou não, independente de suas preferências.


Escutem o "Machine Head", do Deep. É coisa fina. Eu considero um dos melhores discos de rock de todos os tempos. É o que tem a melhor música dos caras, "Highway Star". O disco talvez seja o mais radiofônico de todos, talvez por isso tenha feito bastante sucesso. Nele também consta o mega-hit “Smoke on the water”.




Rush* - Muita gente não conhece, mas o Rush é um trio de rock progressivo que surgiu no final da década de 60. É o quinto artista que tem mais discos de ouro e platina, perdendo só para Aerosmith, Beatles, Kiss e Rolling Stones (http://pt.wikipedia.org/wiki/Rush) .






Segue o clipe de Highway Star, com o Deep Purple em sua melhor formação:

domingo, 8 de junho de 2008

Dificuldades

Antes de postar a matéria que fiz para o trabalho sobre a terceira idade, preciso ressaltar alguns pontos.

Saibam, estudantes de jornalismo sofrem. Imagina o que é você necessitar falar com uma fonte, para compor a notícia, e não conseguir contactar nenhuma. Quando me identifiquei como "repórter do LabWeb", explicando o que era o site, minha credibilidade era zerada. Talvez tenha sido mais complicado para mim, que precisei conversar com políticos. Se já é difícil para a mídia "grande" conseguir entrevistá-los, o que pensar de uma mera estudante de comunicação?

Sem comentários. Por isso que a minha matéria ficou fraca e incompleta. Levei vários foras de secretárias, e eu precisava cumprir um prazo.

De qualquer forma, segue a tal matéria sobre a participação dos idosos na política baiana. Na página, tem link para o resto do texto.

http://labweb.fsba.edu.br/hipertexto.asp?ID=355

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Nave ácida!



Quando eu soube dessa história de "pegada ácida", a primeira coisa que me veio à cabeça foi algo muito louco.Uma espécie de música altamente alternativa, com um Q maiúsculo de psicodelia. Tá, confesso, pensei logo em algo tipo Sonic Youth.

Mas é claro que a festa Nave não é restrita à um estilo só. Creio que essa tal pegada também não seja.

Então vou definir "pegada ácida" como música louca, parte de uma vida também louca, para aqueles que não se contentam em escutar, mas que precisam sentir a música provocando-lhes reações inesperadas.


Se, mesmo com a minha explicação, você não captou a mensagem:

- Nave na pegada ácida! -
[Indie - New Rock - Electro - Pop]

DJs: el Cabong Janocide Centro Cultural Batidão (SP) Buenas Spencer Marccela
07/6/2008 23h R$ 15
Boomerangue (Rua da Paciência, 351 - Rio Vermelho)
Classificação: 18 anos





Essa pegada é uma onda. E a onda agora é "pegada ácida"!

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Trabalho noturno afeta qualidade de vida



Por Renata Alves


O trabalho noturno causa mais problemas à saúde do que se imagina. Uma pesquisa realizada em 2004, pelo Instituto Oswaldo Cruz e o Grupo Multidisciplinar de Desenvolvimento e Ritmos Biológicos, revelou que a troca da noite pelo dia acarreta em doenças de ordem física e psicológica. O desconhecimento desses distúrbios ou a não-associação destes à uma noite insone faz com que muitos optem por inverter sua rotina, perdendo qualidade de vida.


“O fenômeno principal é a desorganização do ritmo do sono, a insônia”, diz o médico Willian Buinghan, 54 anos. Como o desejo de dormir costuma não ser reposto, doenças psicológicas como o estresse, a ansiedade e a depressão são agravadas. Estar adaptado a não dormir no horário comum não alivia os efeitos. O especialista afirma que prezar por boas condições de ambiente, evitar bebidas alcoólicas e atividades físicas próximas ao horário de descanso e ter uma alimentação leve amenizam os efeitos de uma noite insone, mas o cumprimento de todas as fases do repouso é fundamental para a reposição das energias do corpo.


O estudo realizado pelo Instituto e o Grupo Multidisciplinar da Universidade de São Paulo (USP) ainda constatou que as mulheres têm mais dificuldade de repor o sono perdido, pois costumam ser mais preocupadas com os filhos e as atividades domésticas.


O policial Antônio Élio Santos, 40 anos, que possui turnos de trabalho variados, não sente cansaço durante a noite. Ele diz já ter se acostumado com a insônia, ao contrário de alguns colegas, e reconhece o perigo que isso pode representar, pois seu posto requer atenção redobrada. Marcelo Gomes, 26 anos, garçom de boate, tem o mesmo distúrbio e se sente disposto na madrugada. Ambos não associam qualquer doença à falta de rotina do sono.


Possíveis fenômenos físicos e psicológicos dos funcionários da noite parecem não afetar o bom desempenho dos estabelecimentos. João Pedro Nervo, gerente e sócio de bar no Rio Vermelho, diz que não há diferença de comportamento entre os empregados diurnos e noturnos. Ele justifica que bonificações concedidas aos garçons os estimulam durante o expediente. “São pessoas acostumadas a trocar a noite pelo dia”, conclui.

sábado, 31 de maio de 2008

Duas Caras


Hoje vai ao ar o último capítulo de uma das novelas mais perigosas da Rede Globo, Duas Caras. Agnaldo Silva, esquerdista ressentido e autor da trama, deixou transparecer todas as suas mágoas com o lado vermelho da vida, através de personagens que exaltavam o totalitarismo social e perpetuavam, mesmo nas camadas menos favorecidas, o pensamento de uma elite burguesa e direitista.
Chegava a ser cômico (para não dizer trágico) o modo como certas ideologias eram sutilmente transmitidas. Desde a defesa explícita do ensino superior privado em detrimento do público, passando pela ridicularização dos movimentos sociais, até a má-caracterização do professorado como profissionais torpes, a trama, nesse sentido, beirava o absurdo.
Obviamente, não é a primeira vez que uma novela trata os temas reais de maneira irresponsável. Aliás, todas as novelas da Rede Globo não têm o menor escrúpulo ao abordar os assuntos da sociedade sob a ótica de quem a domina, ou seja, a minoria que está no topo da pirâmide. O problema é que os telespectadores desse tipo de programa fazem parte da grande massa que acaba impregnada de valores que a alienam à reflexão.
A diferença entre Duas Caras e as outras novelas é a nitidez ideológica e posição política de quem a escreveu.
Diversos exemplos poderiam ser aqui relatados, mas limito-me a apresentar apenas um; o mais grotesco, talvez. Um rapaz chamado Rodolf*, interpretado por um ator negro de traços brancos (pele morena-clara e, pasmem, olhos verdes) representava a classe média, universitária, esquerdista e, guardadas as devidas proporções, revolucionária. Não é preciso dizer que os diálogos e a interpretação era caricaturais, ridículas. Certo tempo se passou e uma garota, representante da chamada burguesia intelectualizada, desmascarou o rapaz que, na verdade, era muito rico e, segundo evidência na trama, um baderneiro sem ideal. No final, ele reconheceu que sua postura combativa era um “erro”, juntando-se à tal burguesinha que, segundo falas da mãe da garota, ajudou-o a deixar de ser um revolucionário tosco, passando a ser uma pessoa melhor. Sem mais comentários a essa tamanha falta de respeito a quem tem a esperança como virtude.
Bem, sobre a favela mais lunática e sem-cabimento da história da humanidade, a Portelinha, vou apenas comentar que é uma pena o desconhecimento das pessoas sobre a favela. Ficam à mercê de gente que não sabe do lado comunitário e complacente desses lugares. Como um autor pode chegar tão perto da realidade e, ao mesmo tempo, distanciar-se tanto dela? Esqueçam Juvenal Antena, aquilo é um delírio inclassificável.
Sei que novelas, não necessariamente, são correspondentes ao real. Mas precisamos admitir que a maioria das pessoas pensa que sim e, inclusive, baseia seu comportamento nos valores ali ditados.
Sem mais.
*Rodolf – Não sei, sinceramente, se é assim que se escreve e, confesso, estou sem saco para procurar o resumo dos capítulos e sanar minha dúvida.

sábado, 24 de maio de 2008

Hard Candy


Com um certo atraso, venho falar um pouco sobre o Hard Candy, novo disco da Madonna. Mas já adianto que o post não vai ser longo. Infelizmente, não há muito o que comentar.


Quem acompanha a carreira da cantora sabe do seu estilo único. Desde os seus primórdios de fama, lá nos anos 80, Madonna faz um pop influenciado por diversos estilos musicais. Mesmo quando lança algo próximo do lugar-comum, ela consegue exprimir sua identidade no trabalho, tornando-o inconfundível.


Não é o caso do seu disco mais recente. Timbaland, o cafetão da atual música pop norte-americana, foi um dos produtores do disco. As evidências de sua participação no projeto se sobrepunham à singularidade de Madonna. Ao escutar o disco, percebe-se que a maioria das músicas ( 4 Minutes, por exemplo) poderia ser atribuída à uma Nelly Furtado ou Jennifer Lopez. A participação de Justin Timbarlake nos vocais do primeiro single reforçam a teoria de que, nesse cd, a musa igualou-se às outras, o que é muito ruim. Ela não precisa disso.


Todas as músicas são fracas, se pensadas como de Madonna. O disco é bom, vale lembrar, mas quando se imagina que este é da chamada rainha da pop music, a decepção é inevitável.


Agora é esperar que, no próximo álbum, a cantora volte a contar exclusivamente com o seu talento, experiência musical e produtores que valorizem o jeito Madonna de ser e fazer pop.

sábado, 10 de maio de 2008

Ney Matogrosso em Salvador




Divino maravilhoso. Essa é a melhor definição para o show do cantor Ney Matogrosso, que passou pela sala principal do Teatro Castro Alves (TCA) para divulgar o seu mais novo disco, Inclassificáveis. Com 66 anos, Ney esbanja vida e glamour, com performances dignas de um grande intérprete, único, cheio de personalidade. O seu vigor, além da voz ímpar, continuam sublimes.

Sexta-feira, 9 de maio. Abrem-se as cortinas do TCA. Com uma banda impecável, o cantor estréia sua turnê em Salvador com O tempo não pára, hit de Cazuza. A partir de então, houve desfile de um belo repertório escolhido pela própria estrela da noite. Nele estavam, entre outras canções, Veja bem meu bem, música dos Los Hermanos e primeiro single do disco, Ode aos Ratos, canção de Chico Buarque, que ganhou roupagem mais pesada, e Inclassificáveis, composição de Arnaldo Antunes que dá nome ao disco. Em Coisas da Vida, Ney deixou a dança de lado para criar um momento intimista provocado pela balada. Já em Divino Maravilhoso, o cantor empolgou a platéia lotada. No bis, para fechar a apresentação, Pro dia nascer feliz fez muita gente levantar do seu acento para pular e cantar o refrão.

A produção do show era visivelmente competente. A iluminação, muito bem planejada, em sincronia com as batidas das músicas, fazia o público sentir ainda mais as emoções do show. O cenário, com elementos regionais e místicos, facilitava a visualização do estilo do disco. O ponto mais forte, no entanto, foi o figurino de Ney. Ele vestia uma malha transparente cheia de brilhos. Para delírio da platéia, as trocas de roupa eram no próprio palco, onde havia também um sofá que o auxiliou nas performances. O show, vale lembrar, é dirigido pelo próprio cantor.

O teatro lotado comprovou que o ex-vocalista da antológica Secos e Molhados atrai admiração e respeito. Apesar do seu estilo irreverente, o público foi constituído, em sua maioria, por pessoas de gerações passadas. Devido ao enorme sucesso da turnê de Inclassificáveis, que teve seus ingressos esgotados em pouco tempo, Ney Matogrosso já prometeu voltar à capital em setembro. Hoje, dia 10, haverá outra apresentação, no mesmo horário e local.

Sem dúvida, um dos maiores intérpretes da música brasileira.




*PS: Fotos tiradas por mim.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Imbecilidade ímpar

Faço minhas as palavras do governador Jaques Wagner, que caracterizou de "imbecilidade ímpar" a declaração do, talvez já, ex-coordenador do curso de medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Antônio Natalino Dantas.

Depois de divulgado o resultado do ENADE, feito pelos alunos do curso, que tiraram nota 2, o coordenador deu um show de preconceito. Colocou a culpa do mal desempenho dos baianos ao seu "baixo qi". Ainda disse que, se berimbau tivesse duas cordas, não conseguiria ser tocado por aqui.

Nesse caso, foi desconsiderada a possibilidade de boicote à prova. E mesmo que não o houvesse, tentar explicar tamanha incivilidade é unútil.

Não há muito o que acrescentar nesse caso. É unâmine o posicionamento da população em relação à falta de respeito e a irresponsabilidade de uma pessoa como essa. Em qualquer esfera social, tamanho preconceito é injustificável. Cidadãos à frente de organizações, no entanto, devem ter cuidado redobrado com o que falam, pois seus discursos podem representar a opinião de uma categoria, além de causar danos irreparáveis à moral de um grupo.

O estrago já está feito, e a imagem dos alunos da UFBA, no âmbito nacional, já está desfigurada.

Na hora de se nomear reitores, representantes ou coordenadores, o conhecimento específico não é suficiente. É preciso, acima de tudo, ter humanidade e valores do mesmo gênero.

Para completar, em entrevista à Rede Bahia, Natalino ainda disse que "a Bahia não é ambiente propício à medicina porque as coisas aqui são voltadas para a musicalidade, não digo nem música, porque não considero esses ritmos de percussão música propriamente dita".

Ele não sabe de nada.




Vejam a reportagem :

http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM822255-7823-DECLARACAO+DE+COORDENADOR+DA+UFBA+CAUSA+POLEMICA,00.html

terça-feira, 29 de abril de 2008

I told you so

Lembro-me, como se fosse hoje, das palavras do professor Caio Phreis, de redação. Lá no ISBA, em 2006, em época de segundo turno para as eleições presidenciais, ele bradou,"Lula não vai entregar o poder, olha o que eu estou te dizendo". Achei um absurdo. Como seria possível? Você remete à ditadura? Claro que não, é que eu não tinha lembrado do perigo desse tal de populismo.

Hoje foi divulgado o resultado de uma pesquisa feita pelo instituto CNT/Sensus. A população, segundo dados, aprova uma reforma na constituição que possibilitaria um terceiro mandato à Lula. Em outra questão, essa mesma população indicou o nome do atual presidente para 2010, logo, desconsiderou o fato de que ele não pode se reeleger.

Dora Kramer, colunista que não é de meu agrado, escreveu certo no seu texto de hoje. Ela questionou o porquê de uma pesquisa idealizando uma situação "impossível". Por que perguntar sobre um terceiro mandato, sendo ele constitucionalmente inviável? Logo lembrei de Caio e sua sabedoria. O golpe é calcado aos poucos, sutilmente. Sim, já é quase realidade, corremos o sério risco de termos Lula em 2010. Outra colocação pertinente de Dora foi a caracterização de Lula como "governante de palanque". Quem diria que hoje, um "antigo" "semi-analfabeto" consegue comover milhares com seus discursos de "eu fiz, ninguém nunca fez, e ainda tenho muito o que fazer". Sem contar que o governo teve essa sacada genial de criar o PAC como Programa de Aceleração do Crescimento...da popularidade de Lula. Esse é um dos melhores programas eleitorais dos últimos tempos. A própria Dilma Rousseff, que é apenas uma possível candidata de fachada do PT enquanto é preparado o tal terceiro mandato de Lula, comparou o lançamento do PAC a um comício. Tudo pensado.

Nesses momentos minha memória é generosa, e só mesmo o meu ego para me fazer rir baixinho.

Quando dizia - e ainda digo - que o governo de Lula é um dos piores do Brasil, por alienar o povo pela boca, por comprá-lo por 30 reais de auxílio-gás, gente vem me dizer que penso assim porque não passo necessidade, porque não tenho noção da dificuldade que a maioria da população sofre, que nunca os pobres foram tão bem tratados. Ó, que lindos vocês são, continuem assim, olhando para os pobres. De cima. Assistecialismo falso, cruel. (A minha real vontade era dizer "Assistencialismo de merda!", mas a expressão iria destoar do texto).

O Estado, vale lembrar, não deve ser pai dos pobres, e sim um funcionário dele, servindo-o sempre. O que o Lula está fazendo é uma covardia sem tamanho. Cala a boca do povo com Bolsa Esmola (opa! Escola), Bolsa Família, Bolsa disso, Auxílio daquilo. É claro que as classes mais baixas não têm tempo e condições de refletir sobre o seu voto. É uma relação direta: esse cara colocou comida na minha mesa e mais dinheiro no meu bolso. Pronto, meu voto é dele, qual o número mesmo?

Há tempos também costumava ouvir brados que diziam, "Renata, o Lula distribuiu a renda, você não lê jornal não? Não viu as pesquisas apontando um aumento da qualidade de vida das classes mais baixas? Elas agora têm mais dinheiro, querida". O que esses espertinhos (desculpa, não estou conseguindo manter o nível do texto, minha revolta é grande) não sabem é que o atual governo não distribuiu renda, ele apenas pegou os trocos ganhos com o crescimento da economia e repassou para essas classes que , supostamente, melhoraram de vida. Ao mesmo tempo, os ricos também ganharam (muito, mas muito) mais dinheiro (claro, a economia cresce para o país todo). Isso é distribuição de renda? Por acaso os ricos estão mais pobres e esses, mais ricos?
Ah, bom.


I told you so.