segunda-feira, 21 de abril de 2008

Caso Nardoni

A morte de Isabella Nardoni está sendo um prato cheio para a mídia. A cada impresso, telejornal ou programa de rádio, qualquer fato surge como uma bomba. Claro que existem os meios de comunicação mais responsáveis, que tratam do assunto de maneira mais comedida. Mesmo assim, a própria história já carrega um estigma sensacionalista, por envolver uma criança (paulista, branca, esteriotipada) indefesa e pais supostamente covardes. O caso, no que tange a euforia midiática e pública, pode ser comparado ao da moça de classe média alta, Suzane von Richthofen, que planejou e executou a morte dos pais.

Essas histórias, vale lembrar, chamam a atenção do público, sobretudo, por envolverem pessoas brancas de classe média alta. Assassinatos do tipo acontecem a todo momento nas periferias da sociedade e, no entanto, não têm o mesmo trato na imprensa, mesmo que em forma de estatística.


Mas voltemos ao caso Isabella. Aqui, seus pais são os únicos suspeitos, o que acentua não só o processo de acusação na justiça, como também o ódio da população, fomentado por um jornalismo que põe a audiência acima de qualquer valor ético. As matérias são conduzidas da pior forma possível, focando-se pouco nos encaminhamentos judiciais e muito na emoção, que em nada ajuda. Pelo contrário, essa pressão psicológica da mídia, que faz vigília na porta dos prédios dos envolvidos, atrapalha as investigações. Tal lavagem cerebral faz com que pessoas viajem milhas para gritarem na porta da delegacia e até tirarem foto das mais novas "celebridades" policias. No orkut, a comunidade dedicada à Isabella tem mais de 100 mil pessoas, e várias delas a homenageiam em seus álbuns de profile. É isso que o jornalismo brasileiro, sobretudo o da Globo, está fazendo, fabricando artistas.


Prova disso é a entrevista exclusiva que o casal concedeu ao Fantástico. Na noite de ontem, Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá - pai a madrasta de Isabella - falaram, emocionados, sobre a pressão que estão sofrendo, dando a sua versão da história. Essa poderia ser um postura positiva do programa, já que houve uma oportunidade de defesa para os suspeitos. Mas parece que a entrevista foi conduzida dando a entender que ali estava um casal de culpados tentando justificar os atos.


Ao invés de produzir um espetáculo, os meios de comunicação deveriam pressionar a Justiça, para que solucione o caso da maneira mais rápida e correta possível.

2 comentários:

Gilvan Reis. disse...

Eu, sinceramente, não aguento mais ver esse episódio de Isabella. Acho que você conseguiu captar bem o por que de tanta visibilidade. Claro que ninguém está discutindo a crueldade, a frieza, o calculismo, etc, mas,efetivamente, esse crime não leva nem de longe a sociedade a refletir sobre si mesmo. A idéia é apenas oferecer na hora do jantar o prato para que o brasilerio devore, mesmo que seja sempre mais do mesmo. Agora, em Salvador, morreram 29 pessoas num final de semana, todos negros, favelados. Alguém levantou a discussão sobre genocídio? Alguém, por acaso, disse alguma coisa sobre isso? E essas pessoas morreram por acaso, coincidentemente? Acho que temos que fazer esse debate sempre!

Clarice. disse...

tem alguma coisa muito errada quando o assassinato de uma garota - um caso familiar, restrito, por mais trágico e dramático que seja - ganha mais páginas de jornais do que, por exemplo, o último ataque do pcc em aão paulo - que deixou dezenas de pessoas mortas, provocou uma histeria coletiva, fez o comércio fechar mais cedo nos bairros ricos e pobres e levou a uma conseqüente e questionável reação policial. fiz a contagem ontem em dois jornais. pois é, o caso dela ganhou.

tem alguma coisa bem errada quando as editorias criam equipes com vários repórteres voltados a destrinchar e esmiuçar cada detalhe dos membros da família envolvida, fazendo plantão 24 horas na porta da casa de avós e tios - prática comum quando o presidente está na cidade.

tem alguma coisa bastante errada quando ninguém percebe o absurdo disso, quando um caso familiar é tratado como último capítulo de novela das oito. quem matou lineu? qual seu palpite? a sua teoria? todo mundo é um pouco investigador, todo mundo quer mais detalhes, mais histórias, mais boatos.

e tem coisas mais erradas ainda quando as próprias pessoas se esquecem que esse é apenas mais um crime, claro um crime horrível, revoltante, intrigante e bárbaro, mas mais um. todos os dias crianças são assassinadas violentamente na cidade. todos os dias os policiais arquivam os casos e os jornais dão pé de páginas para as notícias do tipo.

falta discernimento, responsabilidade, sensibilidade, sobriedade.
é só mais um desabafo,reny. desculpa.