segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Carrasco ou herói?

O balanço sobre a renúncia do ex-comandante de Cuba Fidel Castro pode ser positivo ou negativo, a depender do aspecto analisado.
Positivo porque representa o fim de quase meio século de ditadura. Tomemos esta palavra com o seu sentido mais cruel e imaginemos quantas vidas foram violentadas ou simplesmente acabadas para que o comunismo permanecesse sólido e intacto. Os valores dessa doutrina condizem com fraternidade e igualdade, ausentes em países que adotam este ou o socialismo como sistema político; a idéia de que a consciência popular é vulnerável e , pela democracia, tenderia a se entregar ao capitalismo faz com que governos tomem as rédeas da situação, adotando regimes ditatoriais. Vamos lembrar, também, da miséria generalizada que ilha. Os baixos salários - o mínimo, por exemplo, é de 19 dólares - existem à medida em que quase todos os bens ficam com o governo que, teoricamente, deveria convertê-los para a população em forma de boas condições de vida. Cuba, no entanto, é o único país oficialmente comunista do ocidente, e sofre bloqueio econômico de diversos países, sobretudo do mais rico deles, os Estados Unidos. Em um mundo impulsionado por relações comerciais e regido pelas leis de mercado, não há país que ande bem de forma isolada, praticamente como uma comunidade auto-sustentável. O comércio de Cuba com o resto do mundo é insuficiente para fazê-lo crescer e desenvolver-se como precisa - apesar de os últimos índices de crescimento serem relativamente altos, em torno dos 10 por cento ao ano.
Por outro lado, a saída de Fidel Castro do comando cubano representa uma grande perda para a esquerda mundial. O seu exemplo de luta, desde a revolução de 59, encanta pela sua coragem em desafiar o poderil imperialista e construir uma nação, apesar dos significativos defeitos, "igualitária"(as aspas são referente à impossibilidade de haver uma nação de fato igualitária no mundo de hoje, principalmente quando não há democracia). O seu ideal de sociedade, aliado à grande força política transformou Cuba, durante os últimos 49 anos, em um país-modelo em termos de educação e saúde: lá, o índice de analfabetismo é quase nulo e todos têm direito à medicina de qualidade. Os cubanos também são incentivados na área dos esportes, o que se reflete no bom desempenho dos atletas em competições à nível mundial. À contragosto, "El Comandante" conseguiu moldar um país singular.
Na última terça, dia 18, Cuba perdeu seu carrasco e herói. Para assumir o posto de Fidel, já foi confirmado o nome de Raúl Castro, seu irmão. O novo presidente já anunciou que pretende eliminar algumas burocracias, aumentando o clima de otimismo em relação a uma modernização econômica e social de Cuba. A abertura política pode estender as relações internacionais, melhorar as condições de vida do povo e, ao mesmo tempo, destruir tudo aquilo que foi construído durante anos. O desafio do novo líder é equacionar as antigas conquistas com as novas vitórias. É o início de uma nova era, assim esperamos.

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