Por Renata Alves
No trigésimo aniversário do AI-5, ato institucional que endureceu o regime militar no Brasil, debater seus efeitos sobre o jornalismo baiano faz parte das emblemáticas comemorações. O Café com Prosa, evento promovido mensalmente pela Faculdade Social da Bahia, reuniu no último dia 28 alguns nomes da imprensa baiana para debater a importância de ter coragem e não se intimidar com a força do exército naquele momento.
“Minha geração foi a que teve todos os pecados do mundo, mas foi a que resolveu enfrentar a ditadura”. Emiliano José, jornalista, professor da Faculdade de Comunicação da UFBA e agora deputado federal, resumiu sua postura durante o que chamou de “ditadura militar terrorista”. Para ele, a mídia nacional, sobretudo a do eixo centro-sul, compactuou com os militares, evidenciando uma vocação colaboracionista do jornalismo brasileiro.
José ainda acrescentou que a imprensa regionalizada tinha mais problemas, fazendo crítica ao Jornal da Bahia que, segundo ele, foi conivente com a ditadura, apesar de ter feito oposição ao governo de Antônio Carlos Magalhães. Não esquece, no entanto, de lembrar com elogios das figuras de João Falcão, criador do periódico, e Sérgio de Souza, fundador da revista Caros Amigos e editor do jornal por dois anos.
O deputado contou como iniciou a carreira jornalística. Sem nenhuma formação na área, ainda preso, José ouvia as notícias no rádio, elaborava notas em um papel e fazia-o circular por todas as celas. “Todos tomavam conhecimento do mundo. Aquele era o nosso jornal, uma coisa extraordinária”, contou. Ao sair do presídio, logo foi chamado para trabalhar na Tribuna da Bahia. Assim como muitos repórteres da época, não dominava técnicas da notícia por ainda não haver curso de jornalismo no estado. José ressaltou a importância da garra dos repórteres e dos jornais alternativos, que existiam para provar a covardia da imprensa brasileira.
Outro comunicador presente à mesa foi Manuel Canário, radialista da Rádio Sociedade por muitos anos, incluindo o período do ato institucional nº 5. Canário disse sempre ter trabalhado dentro das regras impostas. Nunca deixou de relatar as notícias, mesmo quando estas diziam respeito ao regime militar. Ele explica que isso era possível devido ao imediatismo do rádio e o conseqüente atraso da escuta militar, que censurava o conteúdo veiculado. Logo que sabia do fato, o radialista corria para o estúdio e improvisava a locução.
Canário jamais foi preso pelos militares. Segundo ele, tal “período de exceção” encorajou alguns jornalistas e atestou a frágil personalidade de outros. O radialista disse aos futuros jornalistas que é necessário correr os riscos da profissão em prol do interesse público. Quando perguntado sobre como sabia dos fatos, ele brincou. “Um passarinho me contou, afinal de contas, meu nome é Canário”, referindo-se às pessoas que o ligavam para passar as informações.
Completaram o grupo de debate o também radialista Pacheco Filho e Afonso Maciel, advogado, professor e ex-presidente da Associação Baiana de Imprensa (ABI). Filho explicou que a sua função era fazer rádio para “divertir, educar e informar”. Por ter trabalhado neste meio com entretenimento, ele pediu desculpas pela fraqueza de argumentos em uma discussão sobre o que chamou de “valentes de última hora”.
Já Maciel teve muito o que contar. Enquanto presidente da ABI, de 1970 à 1972, relacionou-se com militares e governantes, o que rendeu diversas histórias, escutadas com atenção pela platéia composta por alunos, professores e curiosos. Para o advogado, o período do AI-5 foi o de menor liberdade política e de expressão. Aos 87 anos, as memórias de Maciel são completadas por uma coleção de cerca de trezentos bilhetes que recebeu da Polícia Federal na época da ABI, proibindo a veiculação de certas notícias. Sem dúvida, uma aula sobre a história da imprensa no Brasil.
No trigésimo aniversário do AI-5, ato institucional que endureceu o regime militar no Brasil, debater seus efeitos sobre o jornalismo baiano faz parte das emblemáticas comemorações. O Café com Prosa, evento promovido mensalmente pela Faculdade Social da Bahia, reuniu no último dia 28 alguns nomes da imprensa baiana para debater a importância de ter coragem e não se intimidar com a força do exército naquele momento.
“Minha geração foi a que teve todos os pecados do mundo, mas foi a que resolveu enfrentar a ditadura”. Emiliano José, jornalista, professor da Faculdade de Comunicação da UFBA e agora deputado federal, resumiu sua postura durante o que chamou de “ditadura militar terrorista”. Para ele, a mídia nacional, sobretudo a do eixo centro-sul, compactuou com os militares, evidenciando uma vocação colaboracionista do jornalismo brasileiro.
José ainda acrescentou que a imprensa regionalizada tinha mais problemas, fazendo crítica ao Jornal da Bahia que, segundo ele, foi conivente com a ditadura, apesar de ter feito oposição ao governo de Antônio Carlos Magalhães. Não esquece, no entanto, de lembrar com elogios das figuras de João Falcão, criador do periódico, e Sérgio de Souza, fundador da revista Caros Amigos e editor do jornal por dois anos.
O deputado contou como iniciou a carreira jornalística. Sem nenhuma formação na área, ainda preso, José ouvia as notícias no rádio, elaborava notas em um papel e fazia-o circular por todas as celas. “Todos tomavam conhecimento do mundo. Aquele era o nosso jornal, uma coisa extraordinária”, contou. Ao sair do presídio, logo foi chamado para trabalhar na Tribuna da Bahia. Assim como muitos repórteres da época, não dominava técnicas da notícia por ainda não haver curso de jornalismo no estado. José ressaltou a importância da garra dos repórteres e dos jornais alternativos, que existiam para provar a covardia da imprensa brasileira.
Outro comunicador presente à mesa foi Manuel Canário, radialista da Rádio Sociedade por muitos anos, incluindo o período do ato institucional nº 5. Canário disse sempre ter trabalhado dentro das regras impostas. Nunca deixou de relatar as notícias, mesmo quando estas diziam respeito ao regime militar. Ele explica que isso era possível devido ao imediatismo do rádio e o conseqüente atraso da escuta militar, que censurava o conteúdo veiculado. Logo que sabia do fato, o radialista corria para o estúdio e improvisava a locução.
Canário jamais foi preso pelos militares. Segundo ele, tal “período de exceção” encorajou alguns jornalistas e atestou a frágil personalidade de outros. O radialista disse aos futuros jornalistas que é necessário correr os riscos da profissão em prol do interesse público. Quando perguntado sobre como sabia dos fatos, ele brincou. “Um passarinho me contou, afinal de contas, meu nome é Canário”, referindo-se às pessoas que o ligavam para passar as informações.
Completaram o grupo de debate o também radialista Pacheco Filho e Afonso Maciel, advogado, professor e ex-presidente da Associação Baiana de Imprensa (ABI). Filho explicou que a sua função era fazer rádio para “divertir, educar e informar”. Por ter trabalhado neste meio com entretenimento, ele pediu desculpas pela fraqueza de argumentos em uma discussão sobre o que chamou de “valentes de última hora”.
Já Maciel teve muito o que contar. Enquanto presidente da ABI, de 1970 à 1972, relacionou-se com militares e governantes, o que rendeu diversas histórias, escutadas com atenção pela platéia composta por alunos, professores e curiosos. Para o advogado, o período do AI-5 foi o de menor liberdade política e de expressão. Aos 87 anos, as memórias de Maciel são completadas por uma coleção de cerca de trezentos bilhetes que recebeu da Polícia Federal na época da ABI, proibindo a veiculação de certas notícias. Sem dúvida, uma aula sobre a história da imprensa no Brasil.
Um comentário:
"por muitos anos" ficou bizarro.
:/
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