segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Além do que se via


Músicas, arranjos e banda nova. Mesma histeria e gritos de louvor, típicos de fãs losermaníacos. Assim foi o lançamento do disco Sou de Marcelo Camelo, ex-vocalista dos Los Hermanos, na Concha Acústica do Teatro Castro Alves (TCA), no último domingo, 28. Acompanhado pela banda paulista Hurtmold, Camelo mostrou seu novo e suave repertório, mas ainda precisa de tempo para sobrepor suas canções aos sucessos da antiga banda.

Começando o show com um banquinho e um violão, Camelo logo deu o tom do que viria pela frente: um artista que segue a cartilha da bossa nova, mas consegue incorporar elementos modernos às músicas, à exemplo da ótima Mais Tarde. Muito bem acompanhado pelo instrumental da Hurtmold, o cantor passeou pelo curto repertório, destacando-se Menina Bordada, Liberdade, Vida Doce, Janta e Doce Solidão, as duas últimas com potencial para single, cantandas em forte coro pelo público, que demonstrou conhecer todas as músicas.

O atraso de cerca de cinqüenta minutos não tirou o ânimo de uma Concha que não estava lotada, mas tinha um número de pessoas acima do que era de se esperar. Braços para cima, músicas cantadas com paixão e luzes de celulares denunciavam que ali estavam, em grande maioria, os fãs da indefinida Los Hermanos. O cantor falou dos momentos fortes que já viveu naquele lugar e chegou a dizer que já era velho para agüentar tanta emoção.

Camelo, para delírio do público, começou a relembrar os velhos tempos com Morena, passando depois por Pois É, Fez-se Mar, Adeus Você e A Outra, todas de sua autoria. Ao final, alguns ensaiaram um desnecessário “ú! Los Hermanos! ú! Los Hermanos!”. O artista ainda tocou Quem Vem Pra Beira Do Mar, de Dorival Caymmi, e improvisou um instrumental com sua banda de apoio.

O momento do bis, anunciado pela estrela da noite, foi de maior animação, com auge em Copacabana, marchinha dançante que abre passagem para o disco. Durante toda a apresentação, pessoas eram vistas sentadas pelas escadarias do local, o que denota, talvez, melhores condições de um teatro para sediar esse show.

Pouco antes das nove da noite, quando as luzes da Concha Acústica, que passaram o show inteiro apagadas, já estavam acesas, fãs colados no púlpito contavam com a ajuda dos roadies para lhes garantir palhetas, set lists ou qualquer outro objeto que fizessem lembrar daquele artista, que começa a se consagrar como grande músico e compositor além de uma banda de rock.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Em pauta

Meu blog anda um tanto abandonado. As razões são as milhares de coisas que me meti a fazer e que estão tomando quase a totalidade do meu tempo. Talvez seja a hora de descontrair. Deixei passar assuntos bons, discussões quentes. Mas espero conseguir me organizar e atualizar isso aqui como devo, frequentemente.

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Comparam-se por aí a atual crise do mercado estadunidense com o famoso crack de 1929 da bolsa de valores desse mesmo país. E pior, certo jornal chegou a afirmar que a falência múltipla dos bancos dos Estados Unidos é situação mais crítica que as ações fantasmas que assombravam o mercado lá pelo final da década de 1920. Sinceramente, não parece (por enquanto). Se bem me lembro dos módulos de História, aquela crise foi catastrófica, deixando milhares de desempregados e falidos pelas ruas do país, além do forte impacto negativo nas economias mundo afora. Por enquanto, apenas acompanhamos as reuniões entre Bush, McCain e Obama e as tensões de economistas e envolvidos no tema. Ainda não se sentiu nenhum impacto direto ou indireto da crise, talvez por ela ainda estar efetivamente no começo; já se fala em colapso do "mercado norte-americano" há muito tempo. A grande questão é: depois de 1929, os Estados Unidos se reegueram de maneira absurda, consolidando-se como potência política e econômica definitiva. Caso essa nuvem carregada vá embora, será que o grand finale vai ser o mesmo? Eu tenho as minhas dúvidas.

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Sou, primeiro disco da carreira solo do eterno hermano Marcelo Camelo, parece estar dividindo a crítica. Enquanto uns falam que o disco é chato, outros fazem comparações positivas à Caymmi e Chico Buarque. Dizem que ao vivo há muito mais vida na música de Camelo. Na noite do próximo domingo, poderei falar alguma coisa. Também não posso comentar as músicas ainda porque o cd está demorando de chegar aqui, onde posto. Mas adianto: nada amenizará a falta que o Los Hermanos faz. Nada.
[Volto com dois assuntos desconexos, mas "em pauta"]

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Sua opção sexual vale seu voto


Os diversos movimentos cívicos hoje configuram-se mais como uma oportunidade de propaganda para diversos setores do que um momento de protesto, como fora no ínicio da maioria destes. A Parada Gay de Salvador não é diferente. A sua sétima edição ocorreu no último domingo, dia 14, com forte propaganda política.

O que mais era nítido, ao menos na praça do Campo Grande, era um sem-número de candidatos a Câmara de Vereadores distribuindo seus santinhos e pedindo o voto dos transeuntes. Nada mais que natural, apesar de incorreto, que se faça um bom proveito desse tipo de situação, principalmente quando se trata de uma grande festa.

A parte mais séria dessa história toda envolve o Grupo Gay da Bahia (GGB), organizador do evento, cujo tema foi "Seu voto vale sua vida". Marcelo Cerqueira, presidente do GGB, é candidato a vereador pelo Partido Verde (PV) e lá estava, com o seu carro de propaganda, santinhos e cartazes. Soa bastante estranho este lema se pensarmos nos interesses de Cerqueira. É o mesmo que dizer para os GLBTs votarem nos GLBTs. Essa idéia de facções sociais na política é perigosa. Cada político deve ter suas pautas específicas, mas não devem ser limitados a defender os direitos dos idosos - se são idosos - ou dos homossexuais - se os são, por exemplo. Por sinal, o que faria um candidato para defender os direitos dos homossexuais? Conseguiria mais verba para a próxima Parada? Exigiria mais respeito? Bem, heterossexuais, homossexuais, transsexuais, não importa. São todos cidadãos em iguais direitos e condições na sociedade (ou pelo menos deveria). Defender o direito de uma lésbica, por exemplo, é defender o direito de toda mulher. Essa necessidade de selecionar facções de eleitores é mera estratégia política.

O caso piora quando lembramos que o evento utilizou dinheiro público e obteve apoio de algumas Secretarias do Estado, dentre elas a de Cultura. Ou seja, o presidente do GGB fez propaganda política usando dinheiro público. As acusações são tão graves quanto as evidências.

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No mais, a Parada foi fraca, com forte presença de heterossexuais (deveria ser o contrário) que foram atrás apenas do grande carnaval. Bom para os pequenos comerciantes, que venderam umas cervejas a mais, os candidatos à Câmara Municipal, que mostraram suposto apoio à causa gay e, claro, para Cerqueira.


sexta-feira, 5 de setembro de 2008

AI-5: uma sombra que pairou sobre a imprensa brasileira


Por Renata Alves

No trigésimo aniversário do AI-5, ato institucional que endureceu o regime militar no Brasil, debater seus efeitos sobre o jornalismo baiano faz parte das emblemáticas comemorações. O Café com Prosa, evento promovido mensalmente pela Faculdade Social da Bahia, reuniu no último dia 28 alguns nomes da imprensa baiana para debater a importância de ter coragem e não se intimidar com a força do exército naquele momento.

“Minha geração foi a que teve todos os pecados do mundo, mas foi a que resolveu enfrentar a ditadura”. Emiliano José, jornalista, professor da Faculdade de Comunicação da UFBA e agora deputado federal, resumiu sua postura durante o que chamou de “ditadura militar terrorista”. Para ele, a mídia nacional, sobretudo a do eixo centro-sul, compactuou com os militares, evidenciando uma vocação colaboracionista do jornalismo brasileiro.

José ainda acrescentou que a imprensa regionalizada tinha mais problemas, fazendo crítica ao Jornal da Bahia que, segundo ele, foi conivente com a ditadura, apesar de ter feito oposição ao governo de Antônio Carlos Magalhães. Não esquece, no entanto, de lembrar com elogios das figuras de João Falcão, criador do periódico, e Sérgio de Souza, fundador da revista Caros Amigos e editor do jornal por dois anos.

O deputado contou como iniciou a carreira jornalística. Sem nenhuma formação na área, ainda preso, José ouvia as notícias no rádio, elaborava notas em um papel e fazia-o circular por todas as celas. “Todos tomavam conhecimento do mundo. Aquele era o nosso jornal, uma coisa extraordinária”, contou. Ao sair do presídio, logo foi chamado para trabalhar na Tribuna da Bahia. Assim como muitos repórteres da época, não dominava técnicas da notícia por ainda não haver curso de jornalismo no estado. José ressaltou a importância da garra dos repórteres e dos jornais alternativos, que existiam para provar a covardia da imprensa brasileira.

Outro comunicador presente à mesa foi Manuel Canário, radialista da Rádio Sociedade por muitos anos, incluindo o período do ato institucional nº 5. Canário disse sempre ter trabalhado dentro das regras impostas. Nunca deixou de relatar as notícias, mesmo quando estas diziam respeito ao regime militar. Ele explica que isso era possível devido ao imediatismo do rádio e o conseqüente atraso da escuta militar, que censurava o conteúdo veiculado. Logo que sabia do fato, o radialista corria para o estúdio e improvisava a locução.

Canário jamais foi preso pelos militares. Segundo ele, tal “período de exceção” encorajou alguns jornalistas e atestou a frágil personalidade de outros. O radialista disse aos futuros jornalistas que é necessário correr os riscos da profissão em prol do interesse público. Quando perguntado sobre como sabia dos fatos, ele brincou. “Um passarinho me contou, afinal de contas, meu nome é Canário”, referindo-se às pessoas que o ligavam para passar as informações.

Completaram o grupo de debate o também radialista Pacheco Filho e Afonso Maciel, advogado, professor e ex-presidente da Associação Baiana de Imprensa (ABI). Filho explicou que a sua função era fazer rádio para “divertir, educar e informar”. Por ter trabalhado neste meio com entretenimento, ele pediu desculpas pela fraqueza de argumentos em uma discussão sobre o que chamou de “valentes de última hora”.

Já Maciel teve muito o que contar. Enquanto presidente da ABI, de 1970 à 1972, relacionou-se com militares e governantes, o que rendeu diversas histórias, escutadas com atenção pela platéia composta por alunos, professores e curiosos. Para o advogado, o período do AI-5 foi o de menor liberdade política e de expressão. Aos 87 anos, as memórias de Maciel são completadas por uma coleção de cerca de trezentos bilhetes que recebeu da Polícia Federal na época da ABI, proibindo a veiculação de certas notícias. Sem dúvida, uma aula sobre a história da imprensa no Brasil.