Devo dizer, para começar, que o governo (apesar dos incansáveis pesares), está de parabéns. Injetou diversidade na festa como nunca. Através da Secretaria de Cultura (Secult) e Fundação Cultural (Funceb), o folião alternativo teve o seu espaço, podendo relembrar antigos hits com o trio elétrico Anos 80, ouvir rock na avenida com Cascadura e Lobão e ter o grande prazer de testemunhar a volta dos Novos Baianos. A falta de divulgação foi comprovada pelo pouco público que acompanhou alguns desses trios. A violência, no entanto, continua aquela de sempre (12 homicídios no final de semana da festa). As brigas se perpetuaram por tudo o percurso. O Fantasmão que o diga.
Sobre a mesmice musical, a gente pode passar. Nunca vi tanto coorporativismo quanto de quem trabalha para o axé. Bandas tocam músicas de outros artistas, ditos "parceiros". São canções fadadas a virarem hit do Carnaval 2009. Dalila, por exemplo, foi tocada em frente ao Farol da Barra por quase todos os trios que por ali passavam. Ano que vem será uma música de Chiclete com Banana ou Asa de Águia o hit. Não há novidade.
A minha experiência com o Carnaval foi pequena, mas suficiente para tirar algumas conclusões. Na quinta-feira, Os Mascarados deu início à folia do público que não é a fim de buscar Dalila. Tirando a tal da "corda filosófica", que torna o espaço dentro do bloco mais insuportável do que fora dele, ocorreu tudo na mais perfeita irreverência e diversão. A sexta foi dia de descansar em casa para enfim, no sábado, rever os Novos Baianos. Depois de uma forte chuva no início do show, que fez o som parar por cerca de vinte minutos, Baby, Paulinho Boca e Pepeu puxaram o trio com um repertório delicioso, relembrando antigos sucessos da banda, além da clássica "Chame gente". O público fora mais qualitativo que quantitativo o que, por um lado, não é ruim, já que garantiu a boa vibração que marcou a volta dos Baianos. O domingo foi dia de revê-los, agora no circuito Dodô. No início da tarde, eles já estavam lá, agora com mais público, firmes e fortes , trazendo alegria aos fiéis fãs da boa e velha música baiana. Foi nessa ocasião que surgiu a polêmica matéria de Edson Rossi, repórter do portal Terra. Segundo Rossi, o pouco público (para ele, cerca de cem pessoas) foi indicativo de que "o tempo, para os Novos Baianos, já passou", em um texto carregado de preconceito e desconhecimento. O repórter ainda disse que nem foi preciso cordas para separar "a massa" do "público que paga 800 reais por um abadá". Mal sabe ele o princípio de um bloco alternativo. Prefiro passar por cima dos erros desse texto, porque o jornalista não sabia sobre o que estava escrevendo. Mas ele não foi de todo infeliz. Quando diz que "eles [os Novos Baianos] foram ignorados pela turba que costuma curtir ivetes, danielas, psiricos e tataus do Carnaval de Salvador", ele ressalta a pouca importância que foi dada a esse evento histórico que foi a volta do grupo. É de se indignar que haja tão pouca valorização, refletida no pouco público que foi prestigiar. Os Novos Baianos nos dão esse presente, e é assim que retribuimos... Mas como já disse, a qualidade do pessoal que acompanhou o trio acabou por superar essa "falta", sobretudo em Ondina, quando foliões sentaram em frente ao trio, impedindo que este saisse da avenida. Eles queriam mais. Todos queriam mais. E tiveram, no dia seguinte, no Campo Grande, seu pedido atendido. É impossível querer que haja mais gente em um trio independente do que em um Me Abraça ou Cerveja e Cia, mas estamos evoluindo. A quantidade de ótimos trios independentes foi absurda. Gastar dinheiro com abadá é bobagem.
Na segunda, o plano era ir ver Baby e os caras, mais uma vez, ou então seguir o Foguetão - trio independente com Retrofoguetes, Érika Martins, Autoramas e outros. Por problemas de percursos, no final das contas, acabei ficando em casa. Na terça-feira, último dia de Carnaval, a idéia foi seguir um microtrio idealizado pelos músicos que fazem o Jam no Mam (Ivan Huol, Paulo Mutti, dentre outros). Ótima idéia! Além de dançar ao som de um excelente repertório para carnaval, pude ouvir Armandinho tocando (brincando...) Chame gente e Brasileirinho, e Chico César caindo na farra com a galera.
Quando paramos em frente ao camarote-estúdio da Band, alguém da produção dizia que estávamos ao vivo, e pedia animação, braços para cima, coisa e tal. O Carnaval tem essa coisa de exigir uma alegria de quem está presente; muitas vezes, um alegria meio forçada, sobretudo nos blocos de "gente bonita" do axé. Mas, dessa vez, eu não precisei de muito esforço para me animar. Foi tudo mais verdadeiro.